EXPERIÊNCIA

Encontros Clandestinos: cinema e gastronomia às escuras, por Claudio Kovacic

Projeto acontece no Texas Café Bar, no Bairro da Boa Vista, às terças-feiras, sempre ao meio-dia

Karolina Pacheco
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Karolina Pacheco
Publicado em 27/06/2015 às 11:20
Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
Projeto acontece no Texas Café Bar, no Bairro da Boa Vista, às terças-feiras, sempre ao meio-dia - FOTO: Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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“Um lugar oculto que traz à nossa lembrança o encontro do amantes nos anos 60, que procuravam pequenos lugares, em horários discretos, onde ninguém imaginasse que servia para se encontrar.” Assim descreve Claudio Galvez-Kovacic, os seus Encontros Clandestinos, armados às terças-feiras no Texas Café Bar. A brincadeira nasceu a partir de um encontro com uma amiga, nos fundos de uma delicatessen. De lá pra cá, o chef chileno-croata – dito salgueirense, conforme jura e brinca Pedro Escobar, um dos donos do Texas, devido ao “sotaque espanhol puxado com a mistura de qualquer outra pessoa do mundo” –, já realizou no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) um diálogo com as artes visuais e agora desbrava a sétima arte no primeiro Cine & Restaurante do Recife. 

O centro da cidade ao meio-dia. Um lugar fechado cuja entrada não se dá pela porta principal: entra-se pela cozinha. Em meio à escuridão, todos de costas para quem chega – a regra é acomodar-se a partir das mesas da frente. “Os Encontros Clandestinos, o comer e o sentir, têm a ver com sedução: que a arte seduza a gastronomia e que a gastronomia seduza a arte”, sugere Kovacic. As sessões-seduções, compostas ao todo por oito longas-metragens, abordam os preconceitos para amar.

“Eles me olharam firmemente como se eu fosse um bom prato de carne”, disse, certa vez, o ator sueco Björn Andrésen, sobre o dia que foi levado pelo diretor italiano Luchino Visconti a uma boate gay. Anos 1970, Festival de Cannes, onde fora exibido Morte em Veneza, filme escolhido por Kovacic iniciar a série com o que ele chama de “preconceito da beleza”. 


Kovacic preparando os pratos do cardápio enquanto o filme é projetado no Texas
Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem

Para representar o translúcido jovem Tadzio de Morte em Veneza, “o boyzinho, tênue, branco, lindo, quase andrógino”, segundo o chef, a experiência palatal foi mais sublime: “o primeiro prato foi um suflê de queijo fresco com mel de jabuticaba, porque foi a primeira vez que Tadzio aparecia em cena”. No final do filme, a morte como sobremesa: “o cardápio foi muito com a sedução dos momentos, até a morte dele, que foi a sobremesa, obscura. Era um chocolate amargo com amêndoas, bem preto, banhado numa calda quente, típico de uma parte dos Alpes austríacos. ‘Pero muito amargo, pero muito delicioso’: tanto quanto a morte”.

O cozinheiro chega cedo ao Texas para combinar com a equipe a sincronia do paladar com as cenas. O lance é rápido, a plateia é restrita a 21 pessoas por sessão. A cada chegada de prato, um sutil toque nos ombros e um sussurrar amigável do chef apresenta a combinação. O cardápio tem quatro etapas: petisco, entrada, principal e sobremesa.

Claudio recomenda os Encontros Clandestinos aos adultos, cuja experiência de vida facilita a aproximação à realidade do outro. “Consiste em sair do olhar mais concreto para ampliar e conseguir perceber outros códigos. Se ninguém perceber, está bom; se perceber só o sabor da carne com mel de abóbora que servimos hoje (quando foi exibido O Lado Escuro do Coração, de Mario Benedetti) na comida, já foi fantástico.” Os filmes A Malvada (30/06) e Vidas Amargas (7/07) ditarão os próximos cardápios.

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