Nestes dias chuvosos do Recife, muita gente quer mesmo é uma boa folga. Parte dos recifenses aproveitou o feriado de Nossa Senhora do Carmo, pegou a estrada, subiu a serra, curtiu o Festival de Inverno de Garanhuns. Mas, no universo da música ou pelo menos em parte dele a coisa é diferente: não existe feriado e a produção está sempre a mil. Segundo o empresário Fábio Cabral, dono da loja Passa Disco, em 2014, os artistas de Pernambuco contabilizaram 215 álbuns gravados. Em 2015, até agora, já são 140 discos gravados, numa produção que não para.
Acompanhada de Juliano Holanda (violão), Walter Areia (contrabaixo), Rafael Marques (bandolim) e Júlio César (acordeom), a cantora Isadora Melo é uma das artistas que deve entrar em breve nessa estatística. Nome promissor do cenário autoral pernambucano, a intérprete, que também atuou na série global Amorteamo, preparase para gravar o seu primeiro álbum. Segundo Isadora, um dos diferenciais do novo trabalho é a gravação de todo o grupo junto, na mesma sala. Em estúdio desde o início de julho para a realização do registro, a cantora garante que a ideia é experimentar as possibilidades sonoras.
Das 13 músicas que irão compor o trabalho, 11 são inéditas. As canções Partilha e A Joia, que já integraram o EP batizado com o nome da artista, retornam com novos arranjos. Entre as participações, estão as do músico Zé Manoel e da cantora Clara Torres, que já dividiram palco com Isadora: "O próprio Juliano (que também assina a direção musical) também canta. Pode ser que entre mais alguém e, provavelmente, deve ter metais. Mas é algo que estamos acertando".
"A gente quer usar esse formato da maneira mais bem aproveitada possível. Então, para não deixar o disco tão monótono, vamos testar algumas combinações", adianta Isadora, explicando que o álbum deverá ter músicas só com contrabaixo e violão ou baixo e bandolim. As gravações devem seguir até o fim deste mês, período em que Isadora se dedica integralmente ao processo. A intenção é lançar o trabalho entre outubro e novembro.
Da Zona Oeste do Recife, a banda de rock psicodélico e blues Verdes & Valterianos se prepara para lançar o seu primeiro EP. Formado por Diego Blues (guitarra), Diego Gonzaga (baixo), João Vítor (guitarra), Matheus Pinheiro (voz), Nívea Maria (teclado e voz) e Thiago Paes (bateria), o grupo está focado no processo desde o final de maio, quando entrou no Estúdio Wave para gravar as quatro canções que devem formar o trabalho.
"Nós preparamos uma coisa muito bacana muito doidera, dentro do universo do rock dos anos 1960 e 1970, trazendo uma cara nova. E devemos lançar até o final de agosto, estamos super ansiosos", conta o baixista Diego Gonzaga. Deste álbum de estreia, os Verdes & Valterianos já divulgaram o single Mister Superior, gravado através do projeto Converse Rubber Tracks que esteve no Brasil, no ano passado e selecionou algumas bandas para gravação gratuita em seu estúdio itinerante.
A música recebeu uma HQ produzida pelos próprios integrantes. A banda integra ainda a coletânea Os 14 Mais, lançada virtualmente em junho, e acompanha Zeca Viana em seu mais novo trabalho autoral: Estância. Após lançar o EP Preocupação, em 2012, o grupo Projeto Sal se prepara agora para realizar o seu primeiro álbum completo.
Intitulado Sem Medo, Sem Freio, Sem Dor, o disco representa um grande mudança na sonoridade da banda, fruto da maturidade adquirida desde a estreia, segundo o vocalista Jáder Cabral: "Estamos preparando uma sonoridade muito mais pesada, com umas paradas eletrônicas também". Os músicos devem se reunir, no município de Mulungu, na Paraíba, logo após o Festival de Inverno de Garanhuns, para finalizar as composições e iniciar o registro. O disco deve sair ainda este ano.
DUOS
Outro músico que também iniciou as gravações no começo de julho é Geraldo Maia. Após três anos do lançamento de seu último álbum autoral, ele retorna com uma produção independente ao lado do guitarrista Breno Lira. A proposta do formato reduzido, segundo explica, surge em um momento em que Geraldo repensa os caminhos de sua carreira e sente a necessidade de tomar um novo rumo. "A formação minimalista tem o intuito de facilitar e viabilizar a circulação. E escolhi esse guitarrista com quem me afino muito, com o violão e as ideias", conta.
O repertório deve ter 12 faixas, todas parcerias com outros músicos e poetas, que remetem a uma aproximação com a literatura que o cantor apresenta em sua obra. Entre os parceiros estão Marco Polo, Tibério Azul, Paulo Marcondes, Rodrigues Lima, Everardo Norões e o jornalista e editor deste Caderno C, Marcelo Pereira. "Eu quero fazer um disco bem cru, com texturas de ao vivo. Estou confiando muito nas músicas. O disco está com uma cara superurbana", comenta.
Quem também já está em estúdio e deve seguir gravando neste mês de julho é a dupla Gonzaga Leal e Alaíde Costa. Celebrando uma década de parceria e amizade, os cantores preparam o álbum Porcelana, que leva o título de show apresentado pelo duo. Com 13 canções, em que os cantores se revezam e fazem duetos, o álbum de intérpretes é também uma declaração entre os dois. "São canções de amor de um para outro", conta Gonzaga.
Segundo ele, a ideia é gravar os compositores que estavam à margem de suas gravações. Entre as músicas, estão uma composição de João Cavalcanti, filho de Lenine, um fado do português Tiago Torres da Silva, um tema de Capiba. No quesito rítmico, o trabalho é composto por sambas, frevos canções e toadas, com participações de Spok, Naná Vasconcelos e da Orquestra QuebraMar, que assume um papel fundamental no acabamento das músicas: "Nesse trabalho, o piano conduz toda a sonoridade, arrematando com cordas, violões, violinos, violoncelos, violas e percussões", revela Gonzag