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Nação Zumbi dá um passo à frente

Às voltas com a nostalgia dos mangueboys, banda retorna ao local da última apresentação com Chico Science no Recife e promete repertório com antigos mas principalmente novos sucessos

Karol Pacheco
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Karol Pacheco
Publicado em 15/08/2015 às 7:48
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Às voltas com a nostalgia dos mangueboys, banda retorna ao local da última apresentação com Chico Science no Recife e promete repertório com antigos mas principalmente novos sucessos - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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No lugar do chapéu de mangueboy, Chico Science usava um chapéu preto, mais formal, e óculos escuros com ares de ficção científica. Já a camisa, de botão e manga comprida, era estampada com cores vivas – azul, amarelo, verde, vermelho –, feito aquelas dos caboclos do Maracatu Rural. No último show realizado por Chico (que viria a falecer em fevereiro de 1997, em acidente de carro) na sua Manguetown, Recife, ele não parava quieto – agachava, pulava, corria. Assim como o público, que saltava ao som de canções como Etnia, Corpo de Lama e Samba do Lado. Era 1996, lançamento de Afrociberdelia, no Clube Português. Seus parceiros de Nação Zumbi voltam neste sábado (15) ao Clube Português – depois desse dia, e depois de Futura, lançado no mesmo local, em 2005 – para apresentar o show do disco homônimo, lançado em 2014.

Mas “a Nação Zumbi não vive de nostalgia”, cita o vocalista Jorge Du Peixe, em entrevista ao Jornal do Commercio, a frase colocada pelo jornalista do The New York Times, Ben Ratliff. A matéria em questão é uma cobertura do show realizado, no começo do mês, no Festival SummerStage, no Central Parque de Nova Iorque, marcando as duas décadas desde a apresentação que lançou a CSNZ em carreira internacional. Um vídeo de cinco minutos da épica apresentação de 1995 – registrado pela produtora RTV, prestes a lançar um documentário sobre a vida do mangueboy – foi exibido antes do show. Segundo o vocalista, existe uma grande pressão sobre a banda, com os fãs sempre às voltas com a nostalgia. “Por causa da pressão, esta nostalgia de exibir o vídeo, não olhei, porque já estava com uma carga”, admite. 

“A gente está calçado no agora, vale salientar. Estivemos lá (no Festival SummerStage) há 20 anos e não voltamos sendo os mesmos. Viemos evoluindo e pisando em outros solos sonoros, com nossa intenção e perspectiva musical. É como disse a matéria do NYT, a gente está num ‘esquema altamente renovado’ (na realidade, “an endlessly renewable idea”, em português, “uma ideia infinitamente renovável”).” 

“Estamos trazendo para o Recife o mesmo show que fizemos em Nova Iorque. Não dá para mexer muito porque está tudo afinado. Colocamos algumas músicas, deixamos de tirar outras, mas está tudo tão bem colocado, que vamos manter e colocar umas a mais. A dinâmica ficou boa”, revela o músico. O repertório contempla, principalmente, o repertório de Nação Zumbi (2014), mas também cabe Hoje, Amanhã e Depois, de Futura, e hits como A Praieira e Quando a Maré Encher.

“Seja como for / Eu me lembrarei / Seja onde for / Não esquecerei.” Os versos de Cicatriz, música que abre o disco novo, dão uma pista. Não há necessidade, tampouco vontade, de apagar a meteórica e apocalíptica passagem de Chico Science. “Mas não somos uma banda de maracatu”, frisa Du Peixe, “esse último disco é muito mais orgânico e mais melódico”. E provoca: “Vocês acham que Chico estaria no blá blá blá de rap o tempo todo? O único compromisso da Nação Zumbi é com a música, com o que estamos sentido no momento de composição.”

“O que é peso para você?”, questionou Jorge. Em Bala Perdida, os tambores tomam uma personalidade mais melódica. “A gente pode usar os tambores para fazer batidas inversas, não reversas, quebradas”, exemplifica Jorge, que na ocasião do lançamento do Afrociberdelia manejava uma alfaia. Além das canções supracitadas, há no repertório Um Sonho, cujo clipe, dirigido por Pio Figueiroa, numa raspa de nostalgia que olha para o futuro, traz os herdeiros do mangue Lula (apelido de Louise Taynã), filha única de Chico Science, e Ramon Lira, filho de Jorge du Peixe, como protagonistas. Representando “um sonho dentro de um sonho”, como diz a letra, o hit concorre na categoria de Melhor Clipe no Prêmio Multishow.

Veja imagens, do Acervo Chico Science, do show no Clube Português, em 1996:


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