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Livros relembram a trajetória da Legião Urbana

O LIvro do Disco e Só Por Hoje e Para Sempre revelam bastidores de uma das maiores bandas do rock brasileiro

Allan Nascimento
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Allan Nascimento
Publicado em 30/08/2015 às 9:04
Reprodução do site RenatoRusso.com.br
O LIvro do Disco e Só Por Hoje e Para Sempre revelam bastidores de uma das maiores bandas do rock brasileiro - FOTO: Reprodução do site RenatoRusso.com.br
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Em 1995, Dado, Renato e Bonfá apresentaram, em Santos, o último show: dali em diante, não mais tocariam juntos. Duas décadas depois do início do fim da Legião Urbana - a dissolução, de fato, só ocorreria em 1996, com a morte de Renato Russo - a banda ainda comove os fãs daquela época e as gerações seguintes que entraram em contato com o som do grupo. Agora, duas publicações recentes revisitam o passado dos meninos de Brasília. Em O Livro do Disco (Editora Cobogó, R$ 32), Mariano Marovatto narra os bastidores e a recepção do disco As Quatro Estações, em Só Por Hoje e Para Sempre (Companhia das Letras, R$ 34,90), o público tem acesso ao diário que o vocalista da banda escreveu quando esteve internado em uma clínica de reabilitação, em 1992.

Nas livrarias desde julho, as folhas soltas que Renato Russo escrevia na Vila Serena, no Rio de Janeiro, faziam parte do seu tratamento para se livrar do vício em álcool e drogas. Juntas, essas páginas, mais do que descrever as angústias e o estado físico em que o cantor se encontrava ao optar pela internação - e também durante a estadia no local -, apresentam um depoimento franco sobre a pressão que ele sofria à frente de uma das bandas de rock de maior popularidade no Brasil (até hoje, mais de 20 milhões de cópias dos discos já foram vendidos), além de situações vividas por ele nos bastidores das turnês.

Em uma passagem do livro, por exemplo, sua relação afetiva com Dado Villa-Lobos é exposta por Renato. "Fernanda, sua esposa, e empresária da Legião de 84 a 87, se ressentia comigo por achar que eu estava interessado em seu marido. Na verdade, nunca tinha pensado nisso, mas, assim que soube de seu medo, passei a perceber Dado com outros olhos e, embora nunca tenha levado meu interesse às vias de fato (só em pensamentos), as fantasias começaram."

Em outros pontos do diário, o cantor disserta sobre sua crença em um "Poder Superior" - o programa dos Doze Passos (para dependentes), seguido no local, estabelece em um dos seus tópicos que a crença em um "Poder Superior" é indispensável para o tratamento.

A entrada de Renato na Vila Serena, então, passa a ser, também, uma espécie de reencontro com sua espiritualidade. "O Poder Superior não se explica por palavras. Sua existência é percebida não pelo intelecto, mas sim pelo coração. É como o vento, não se vê o vento, mas vemos as árvores em movimento. Ouvimos o som e sentimos o vento no corpo", escreve, em um tom sentimental que prevalece ao longo da obra, mas que não prejudica a força do relato.

LUCIDEZ E EMBRIAGUEZ

As folhas que deram forma a Só Por Hoje e Para Sempre faziam parte do acervo de Giuliano Manfredini, filho de Renato. A obra, arrematada pela Companhia das Letras, deve inaugurar um conjunto de títulos sobre o líder do grupo de rock. "Trata-se do primeiro de uma série de livros que reunirão diários, poemas, letras, obras de ficção e desenhos que meu pai deixou como legado para os fãs e para todos os que queiram entender a dinâmica criativa de um artista multimídia, perfeccionista e brilhante", promete ele, no prólogo do livro.

Com um projeto gráfico que soube trazer para suas páginas a estética do diário original - há reprodução de parte dele no livro -, é notável o investimento da editora na obra, prevendo o alcance do título. Só Por Hoje e Para Sempre figura, há algumas semanas, entre as primeiras posições no ranking de livros de não-ficção mais vendidos.

O poeta Mariano Marovatto, que apresenta o programa Segue o Som, na TV Brasil, e escreveu a edição d’O Livro do Disco sobre As Quatro Estações, destaca o que chamou sua atenção no relato: "Muito me impressiona o fato de depois do V (um disco sóbrio, livre das drogas psicoativas e das drogas religiosas) ele se segurar no ‘Poder Superior’, numa crença no sobrenatural, para poder largar os vícios", diz Marovatto ao JC.

"Se você prestar atenção nas entrelinhas, os únicos momentos em que Renato se livrava dos dois lados (do viciado e do crente) era justamente na sua performance. Antes e depois de gravar vozes e de cantar no palco, era o momento mais sóbrio, mais importante, mais essencial de toda a sua vida, onde ele era de fato o Renato Russo que todo mundo aprendeu a venerar."

Para Marovatto, outro ponto que merece destaque foi o fato de Renato "não admitir ali, mesmo sendo um diário escrito para ele e por ele, como parte de um tratamento, de que tem AIDS. Talvez fosse o medo da morte, inescapável para os soropositivos até então".

Leia matéria completa na edição deste domingo (30/8) do Jornal do Commercio

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