Polêmica

Joelma e Chimbinha ou Dalva e Herivelto: brigas e polêmicas

A separação tumultuada é uma constante no mundo artístico

JOSÉ TELES
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Publicado em 11/10/2015 às 6:00
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Viajando separados há 15 dias e falando entre si o estritamente necessário, os dois fizeram a última turnê juntos. Durante os ensaios, ela se sentia mal quando notava que ele sacava do repertório determinadas músicas. Sabia que estas canções tinham a ver com a outra, o pivô do término de um casamento supostamente feliz, visto como um exemplo de que casais conseguem ter um relacionamento estável no meio artístico. Mas estava tudo acabado entre eles. Estavam prestes a entrar na carreira e vida solos.

O trecho acima não é sobre o casal brega Joelma e Chimbinha e o rumoroso fim de caso dos dois. É o resumo do relato da roqueira americana Kim Gordon, no livro A Garota da Banda, elogiada autobiografia iniciada com o relato do final de um casamento de 27 anos com o guitarrista Thurston Moore, com quem fundou o cultuado grupo Sonic Youth. O último show da SY foi no festival SWU, em 2011, em Itu (SP). Assim como o casal paraense da Calypso, Kim e Thurston levaram a briga de casa para os palcos, obrigados a cumprir contratos firmados antes do término do casamento. A despeito dos primeiros cantarem brega e o segundo rock and roll, os fãs tiveram o mesmo comportamento: ficaram solidários à mulher enganada e decepcionados com a separação.

"O peixe é pro fundo das redes/ segrego é pra quatro paredes", versos de Segredo, de Herivelto Martins, protagonista de um dos mais rumorosos casos de separação na música popular. Nascido em 1936, o Trio de Ouro, formado por Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas, foi um dos grupos vocais mais bem sucedidos da época. Casada com Herivelto Martins, Dalva de Oliveira sabia das puladas de cerca do marido, de quem não escapavam nem amigas da mulher. Hóspede do casal, a cantora paulista Isaurinha Garcia cedeu à lábia do compositor, mas foi flagrada e teve a mala e as roupas atiradas à rua pela ex-­amiga. Porém, mulher de sua época, Dalva suportava as escapulidas do marido, desde que não fossem duradouras.

Quando Herivelto Martins apaixonou­-se por Lurdes, uma belíssima aeromoça gaúcha e passou a ter dupla vida conjugal, o pau cantou valendo. E a imprensa adorou. Os dois se separaram durante uma temporada em Belém do Pará. "Fim do Trio de Ouro ... Dalva de Oliveira vai se desquitar de Herivelto Martins", anunciava a Revista do Rádio em 1º de abril de 1950. O trio continuaria mais um tempo, com Noemi Cavalcanti, e o relacionamento turbulento de Herivelto e Dalva também. A imprensa incentivou a lavagem da roupa suja em público e a MPB lucrou pela trilha sonora que serviu de fundo musical para a novela. Dalva de Oliveira começou a batalha com Tudo Acabado ("Tudo acabado entre nós/ não existe mais nada"), de J. Piedade e Oswaldo Martins. A música, com declarações da ex­-mulher à imprensa e os casos que ela passou a manter irritaram Herivelto, que revidou com Cabelos Brancos, composta antes da briga, em parceria com Marino Pinto ("Respeite ao menos os meus cabelos brancos").

ABAJUR LILÁS

A Odeon incentivou a querela e fez alarde do novo disco da cantora, Que Será? (Marino Pinto e Mário Rossi), cuja letra traz os impagáveis versos: "Que será da luz difusa do abajur lilás/ se nunca mais vier a iluminar/ outras noites iguais". O ex­-cônjuge não perdeu tempo: com David Nasser lançou Caminho Certo ("Eu deixei o meu caminho certo/ e a culpada foi ela/ transformava nosso lar, em minha ausência/ em qualquer coisa abaixo da decência"). A confusão generalizou­se respingando para outras searas, como quando Ataulfo Alves, amigo de Herivelto Martins, compôs para Dalva de Oliveira Errei, Sim ("Errei, sim/ manchei teu nome /mas foste tu mesmo o culpado/ deixavas­me em casa/ me trocando pela orgia"). A próxima de Herivelto já foi dirigida a Ataulfo Alves e Marino Pinto: Falsos Amigos. Teve semanas em que, nas dez músicas mais tocadas do País, três faziam parte do songbook do entrevero entre Herivelto e Dalva.

A polêmica continuou com mais música. Veio Teu Exemplo, de Herivelto Martins, que foi rechaçada com Dalva de Oliveira com Calúnia (Marino Pinto e Paulo Soledade). Herivelto, com Benedito Lacerda fez Consulta teu Travesseiro e Não Tem Mais Jeito. A ex rebateu forte com Palhaço, de Nelson Cavaquinho e Oswaldo Martins, e Fim de Comédia, de Ataulfo Alves ("Este amor quase tragédia/ que me fez um grande mal"). Foram dois anos de acusações mútuas que venderam discos, jornais e revistas, e que recebeu o ponto final quando Dalva de Oliveira estourou com o baião Kalu, de Humberto Teixeira, gravado nos estúdios da EMI, em Londres, tornado famoso pelos Beatles.

Nem os Beatles estiveram livres de perturbações e triângulos amorosos. O guitarrista Eric Clapton era o melhor amigo do Beatle George Harrison quando se apaixonou por sua mulher, Patty Boyd. Vivendo o que parecia uma paixão impossível, Clapton se afundou em drogas e compôs a que é considerada sua obra­prima: Layla. A senhora Harrison condoeu­se com o sofrimento do guitarrista e deixou o marido para viver com ele. Com fleuma britânica, George Harrison continuou amigo de Clapton. 

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