Jovem Guarda 50 anos

Wanderléa afirma que Jovem Guarda foi a revolução da alegria

Cantora diz que vivia ocupada demais para se importar com críticas

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 28/11/2015 às 8:09
foto: Divulgação/Jairo Goldflus
Cantora diz que vivia ocupada demais para se importar com críticas - FOTO: foto: Divulgação/Jairo Goldflus
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"Por favor, pare, agora/senhor juiz, pare, agora". Os versos iniciais de Pare o Casamento (versão de Stop the Wedding), sucesso de Wanderléa em 1966, são imediatamente lembrados quando o nome da cantora é citado. Sua obra, no entanto, é muito mais variada, indo do pop ingênuo ao rock e à MPB alternativa dos anos 1970. Ela veio ao Recife para uma temporada de três dias e quatro shows (com ingressos já esgotados) na Caixa Cultural. Em apresentações intimistas, repassa a carreira com um trio mais apropriado para cantar jazz: bateria, baixo e guitarra. A mineira de Governador Valadares, Wanderléa Salim, de 69 anos, celebra os 50 anos da Jovem Guarda, igual duração de sua carreira. Ela conversou com o Jornal do Commercio sobre temas que normalmente não abordam quando a entrevistam, como a marcha contra a guitarra elétrica, de 1967, liderada por Elis Regina, ou o assédio que sofreu de fãs perturbados, entre eles, o catarinense João Acácio Pereira da Costa, o tristemente célebre Bandido da Luz Vermelha. A entrevista fecha a série sobre os 50 anos da Jovem Guarda, iniciada em abril.

JORNAL DO COMMERCIO ­ Vocês da Jovem Guarda eram muito jovens quando tudo começou. Boa parte, feito você, mal tinha saído da adolescência.

WANDERLÉA ­ Gravei o primeiro disco em 1962, ia fazer 16 anos, mas tinha contrato com a CBS desde os nove. Todos começamos muito crianças. Acho que foi uma coisa boa. Era uma necessidade de abertura, de alegria em ritmo do rock. Levamos isto para o Brasil inteiro, que também curtiu esta alegria muito natural de adolescentes.

JC ­ A Jovem Guarda era formada basicamente por jovens saídos da classe média do subúrbio, enquanto a turma da MPB era de classe média Zona Sul, universitária. Esse pessoal fazia críticas a vocês, entre, outras a de serem alienados.

WANDERLÉA ­ Geralmente se chega à politização quando está na universidade. Quando entrei na Jovem Guarda, eu começava a fazer o ginásio. Vínhamos da classe média do subúrbio. Porém, acho que o sucesso que fazíamos foi tão grande que perturbou o pessoal. Pela primeira vez, o Brasil viu um movimento cultural daquele tamanho. Era a Jovem Guarda. Digo cultural, porque nós tivemos uma influência forte no jovem, trazendo uma modernidade, uma forma atual de dançar, de vestir, de cantar. Foi uma coisa que tomou o Brasil. Então, aquele sucesso perturbou o que estava estabelecido, e eles queriam que tivéssemos um discurso político e partidário com aquela idade que a gente estava. O que queríamos era ser felizes, nos libertar. Primeiro, da patrulha que existia dentro da própria casa, daquela coisa de benção mãe, benção pai pra tudo. Tínhamos a coisa da alegria, da descontração, do ser feliz. Vínhamos de uma estrutura muito pesada, nosso avós participaram da Segunda Guerra. Era todo mundo em casa, muito austero. Os filhos só vestiam aquilo que os pais escolhiam, não podiam participar das conversas da sala. A gente queria a alegria.

JC ­ Este patrulhamento dos que faziam a MPB chegou a uma passeata contra a guitarra elétrica. Isto lhe incomodava?

WANDERLÉA ­ O patrulhamento era forte, mas não estávamos nem aí. Estávamos ocupados trabalhando, rodando todo o Brasil. A passeata contra a guitarra? Na realidade aquilo não nos tocou, nem nos sensibilizou. A gente não tinha nem tempo. Os compromissos eram de tal maneira que ninguém tinha tempo pra se ocupar com aquele patrulhamento que existia.

(leia entrevisa na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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