Ela admira os versos dos poetas pernambucanos Carlos Pena Filho e João Cabral de Melo Neto; usa ônibus e metrô como meio de transporte; é viciada em tapioca e queijo de coalho; limpa, por escolha, a própria privada; levanta bandeira contra o consumismo desenfreado e já esteve sob holofotes de novela em horário nobre, dividindo a cena com Fernanda Montenegro e Natália Timberg. Eis alguns dados que ajudam a compor o perfil da atriz Luisa Arraes. Perfil – uma tentativa de se oferecer ao leitor uma espécie de tradução dos gostos, caminhos e jeitos de alguém. E, quem sabe, de quebra, consigamos um pedaço da alma do nosso perfilado.
Sobre Luisa Arraes, a neta do mito da política que por três vezes governou Pernambuco (Miguel), a prima do ex-governador que morreu cedo e tragicamente (Eduardo), a filha do craque pernambucano que faz bonito na TV nacional (Guel) com atriz de talento e beleza rara (Virgínia Cavendish), a moça de 22 anos que assumiu, há tempos, as rédeas da sua vida, dá para se dizer, sem erro: é alguém que mergulhou profundamente e de corpo inteiro na carreira que escolheu e mantém nós apertados com a terra de seus pais. “Eu sou Pernambuco”, assevera. “Não tem saudade porque minha relação sempre foi de visitante, de estrangeira que retorna. Voltar ao Rio é sempre difícil, minha família, minha história e criação estão no Recife. Então, é como encontrar meu poço, da onde eu vim.” Embora tenha sido criada no Rio de Janeiro, ela garante ser uma mistura de ambos.
Além de Pena e Cabral, os músicos Chico Science e Lula Queiroga e o cineasta Kléber Mendonça Filho entram na lista dos pernambucanos admirados por Luisa. Ela vem ao Recife todos os anos, principalmente para encontrar a família: “sou grudada com todos”.
De Miguel Arraes, ficaram poucas lembranças: “Meu avô sempre dedicou a vida ao seu trabalho, então, nós o víamos no Natal, em algumas tardes na casa dele, mas já era uma lenda”, confessa. “Lembro só de seu charuto, das tardes com ele, da sua serenidade e de como era difícil entender o que ele falava por causa do pigarro. Quando ele morreu, eu tinha só 12 anos.”
A ditadura e o exílio que marcaram os Arraes deixaram lições, ela garante. “Meu pai e minha mãe viveram nesta época e acreditam em muitos princípios desse legado. A desigualdade social me enlouquece – eu não gosto de comprar nada. Mesmo! É muito difícil me encontrar comprando alguma coisa que não seja, de fato, necessária. Ou para experiência, estudo. Não é escolha, eu não gosto. Adoro ganhar e dar coisas, mas o ato de comprar não me faz feliz”, ensina.
A atriz mora só. Antes de conquistar o seu lugar, dizia sonhar em limpar a sua própria privada. Limpa? “Todo mundo no mundo limpa a sua sujeira. Por que o brasileiro tem que ter essa separação? Sonho com o dia de que fala o filme Que Horas Ela Volta”, revela. “Eu realmente tenho a esperança que possamos ter um País menos desigual. Estou me preparando para esse dia.”
Segundo Luisa, a chegada ao horário nobre na novela Babilônia (Globo) e o fato de ter feito par romântico com o mocinho Chay Suede mudaram pouco sua vida. “Ando de metrô e de ônibus tranquilamente. Não parei de fazer nada.” E arremata: “o coletivo é muito importante para mim – se excluir no privado não é uma opção de vida.” Sobre a atuação junto a Fernanda e Natália, ela afirma: “Palavras são poucas. Foi uma experiência do cunho mais profundo. Elas são maravilhosas e foi um aprendizado diário poder trocar experiência com elas. Não sei não ser redundante”.
Ainda completando o perfil da atriz, é possível se dizer: ela está concluindo o curso de Letras, tem os olhos meio verdes, meio mel que são marca de sua família paterna e é um doce de pessoa: por diversas vezes, chamou a repórter de “flor”. “Pernambucana pra mim é rainha.”
No dia 14, ela estará nos cinemas com Reza a Lenda, filme em que contracena com Cauã Reymond e Sophie Charlotte. E avisa: está doidinha para vir profissionalmente a Pernambuco, esperando só pelos convites. Pode ser com o espetáculo infantil Pedro Malazarte e a Arara Gigante; pode ser com a peça A Santa Joana dos Matadouros, de Brecht, que esteve em cartaz no Rio, mês passado. Vem cá, Luisa!