David Bowie, em meados dos anos 60, era um provável candidato a permanecer no anonimato. Em 1966, a Inglaterra tornara-se o epicentro do terremoto pop que abalava o mundo inteiro, enquanto Bowie, que adotara o nome artístico de David Jones, viu-se até obrigado a troca-lo pra que não o confundissem com o homônimo David Jones dos Monkees. Foi nesta época que o seu empresário voltou dos Estados Unidos com uma fita demo de um grupo chamado The Velvet Underground: “Ele trouxe pra mim, disse que era horrível e provavelmente o tipo de coisa de que eu iria gostar” (em entrevista e Neil Star, no livro Fama e Loucura). Não apenas gostou como passou, em shows, a fazer covers da obscura banda nova-iorquina, antes mesmo do primeiro disco do Velvet Underground ser lançado.
A admiração pelo VU fez DavidBowie passar por um dos momentos mais constrangedores de sua vida. Em 1971, ainda desconhecido foa da Inglatera, foi pela primeira vez aos Estados Unidos. Em Nova Iorque assistiu ao Velvet Underground, no Electric Circus, local badalado da cidade na época: “Depois entrei nos bastidores e bati na porta. Conheci John Cale e perguntei se podia falar com o Lou Reed. O Lou Reed apareceu na porta, conversamos muito, e eu disse o quanto o admirava”. No dia seguinte, Bowie descobriu que não tinha conversado com Lou Reed, que deixara o Velvet Underground, mas com Doug Yule, seu substituto. Tampouco deve ter conversado com John Cale, que deixou o grupo antes de Lou Reed.
Talvez este encontro fake tenha o influenciado a criar personagens, ou a perceber o quanto a realidade pode ser modificada ou escamoteada. Talvez não por acaso, foi depois de voltar desta viagem aos EUA que ele abandonou os cabelos longos, e criou o corte Ziggy Stardust, que manteria até Diamond Dogs, e incorporaria o personagem que incorporaria de tal forma que se tornou difícil definir a linha que separava Ziggy de Bowie.
(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)
