Chico Science 50 anos

Chico Science foi uma criança feliz, diz irmã do artista

Goreti França deu depoimento comovente para documentário

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 01/02/2016 às 6:28
foto: acervo da família
Goreti França deu depoimento comovente para documentário - FOTO: foto: acervo da família
Leitura:

Goreti França consegue falar durante horas sobre Chico Science, ou melhor Francisco de Assis França, de quem foi irmã, amiga e confidente. Na série de entrevistas realizadas para o documentário O Caranguejo Elétrico (em processo de finalização), da RTV, a equipe de filmagem conversou com ela, no apartamento em que mora com o marido, em Botafogo, Zona Sul carioca. Goreti fala bem, com fluência, ao contar, sem esconder o orgulho, a história do irmão mais novo. Ninguém o conhecia e o entendia tanto quanto ela. E isso a equipe do diretor Zé Eduardo Miglioli pode comprovar na longa entrevista naquela noite, que se estendeu até o começo da madrugada. A seguir trechos da entrevista, em que a irmã recorda a infância de Chico Science: das traquinices à música com que ele cresceu e que, obviamente, o influenciou.

INFÂNCIA

 Ele era muito levado, era da rua. Tinha um amigo mais apegado chamado Anderson. Ele sempre brincava com este menino. Entre outras travessuras, lembro que um dia, perto da casa da gente tinha muito pé de macaíba, é tipo uma palmeira, cheia de espinhos. Quando a gente viu ele voltou pra casa que nem São Sebastião, todo flechado. Brincando, ele correu e esbarrou no tronco do pé de macaíba. Voltou com a barriga cheia de espinhos. Ele era muito solto, muito livre, uma criança normal. A gente morava num conjunto habitacional e todo mundo criava caranguejo. Lá, em Rio Doce, o mangue era muito próximo, então os caranguejos andavam na rua, vinham pras casas. Todos os meninos que eram adolescentes tinham seus criatoriozinhos de caranguejo e de guaiamum, e eles vendiam. Cevavam e vendiam. Ou então a gente comia.

 VIDA & LETRA

 Naquela época, a coleta de lixo não era tão regular, as pessoas jogavam lixo normalmente na beira do mangue, que depois virou um aterro, e uma comunidade. Aquela coisa do "fui pro mangue catar lixo, pegar caranguejo e conversar com urubu" é uma coisa muito interessante porque ali, de fato, tinha o lixo no fim das casas da rua, tinha objetos coisas que as pessoas jogavam fora. Não era catar lixo, naquele sentido de catar para viver, era divertido ir revolver o lixo, que era as coisas das pessoas. Ele e os outros, quando queriam grana para alguma coisa, tinham esta fonte que era os caranguejos. Os meninos maiores trabalhavam descarregando caminhão de telhas, estas coisas. Chico não pegou isso porque ele era menor e, quando chegou, as casas já estavam todas construídas e habitadas, mas a coisa do caranguejo ele pegou um pouco.

MÚSICA E FAMÍLIA

 A casa da gente era muito musical. Os meus irmãos, os dois mais velhos, gostavam muito de música. Mais MPB, a MPB do Nordeste. Da Bahia para cima. A gente curtia muito Caetano, Gil, Novos Baianos, Moraes Moreira, também o pessoal do Ceará, Fagner, Ednardo, Belchior, e Alceu, Geraldo Azevedo, eram estes nossos ídolos. Chico cresceu neste ambiente, e além disso meu pai tinha também uma coisa muito musical, e os nosso avós também. A gente ia muito pro interior, meus pais são de Surubim, no Agreste de Pernambuco, então a gente tinha muito contato com a tradição musical de raiz, principalmente coco, que era muito comum na região em que os meus pais nasceram. Então tinha isso, e os violeiros, que a minha mãe conta que o meu avô levava e fazia festas na casa dele. Apesar dos meus pais não tocarem nenhum instrumento, tinham uma certa musicalidade na veia. E a gente bebeu muito disso, porque todo ano ia passar as férias no interior e participava de todas estas tradições. Junto com isso, como a gente morava no litoral, tinha toda a tradição da ciranda, que também é música nordestina de raiz, então você tem tudo isso que eu acho que serve de aporte pra ele, pra obra dele depois.

 

Últimas notícias