No final dos anos 60, João Cerqueira de Santana Filho, baiano de Tucano, era um garoto coomo muitos outros, que amava os Beatles, os Rolling Stones e os tropicalistas. Patinhas, apelido que ganhou no ginásio, conheceria outro rapaz do interior baiano (de Monte Santo) Geraldo Barreto, conhecido como Gereba, e formariam uma dupla de compositores. Ele era mais das letras, embora também fosse instrumentista; Gereba vinha de grupos de baile, Os Gatos e os Deuses, e fundou um conjunto que batizou de Bendegó, nome de um meteorito gigante caído em Monte Santo, em 1888 (que se encontra no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio).
Ambos fizeram parte da geração de compositores nordestinos que “invadiu” o Sudeste no início dos anos 70, nomes hoje bem conhecidos como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Belchior, Fagner, Ednardo, Vicente Barreto, Carlos Pita. O Bendegó ganhou os elogios de Caetano e Gil, o que nem era tão necessário. Na época, a imprensa especializada dava atenção especial a jovens músicos baianos. Foi o que aconteceu um pouco antes com Os Novos Baianos, que, mal chegou no Rio, foi contratado pela RGE. O Bendegó não demoraria a gravar o primeiro disco. Assinou, em 1973, com Phonogram, gravadora dos conterrâneos Bethânia, Caetano, Gal e Gil. Quem assinou a produção foi o também baiano Roberto Santana, que na época trabalhava com o bem sucedido grupo recifense Quinteto Violado.
Esperava-se que o Bendegó, dada a origem sertanejas dos integrantes, seguisse a linha do Quinteto. Mas a banda está mais para a psicodelia do que para as raízes nordestinas. Mais para o desbunde do que para algum tipo de engajamento.
Patinhas era mais da composição, foi assim que participou do grupo, como um integrante que não aparecia. Das 12 faixas do álbum de estreia, que se chamou Bendegó, apenas uma não é assinada pelos dois. O disco, porém, não foi muito bem recebido pela crítica.
O grupo logo mudaria a formação. Permaneceriam Gereba, Kapenga e Djalma Correa. Entraram Hely e Vermelho, que seriam fundadores do 14-Bis. Mas a dupla de compositores permaneceria firme. A banda não emplacou sucessos, mas apareceu bem na imprensa. Primeiro com um trabalho com o músico suíço Walter Smetak (1913 - 1984), responsável por importantes experimentações sonoras e criação de instrumentos. Em 1973, Bendegó participaria de um espetáculo com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat e Smetak.
Em 1975, o Bendegó teve a grande chance. Participou do disco Jóia de Caetano Veloso, na faixa Canto do Povo de um Lugar (que teria Patinhas entre as vozes do coro), e o acompanhou nos shows do disco.
Bedengó somente lançaria o segundo LP em 1976. Desta vez com uma participação ainda maior de Patinhas na composição. Das doze faixas de Onde O Olhar Não Mira (lançado pela Continental), ele é responsável por uma dezena (com outros parceiros além de Gereba). Bendegó mesmo sem um sucesso popular sobreviveu até o final dos anos 80, e Patinhas, que enveredou pelo jornalismo, continuou assinando parcerias com o grupo, para outros nomes da MPB. Com Moraes Moreira compôs uma música que toca até hoje no rádio, Forró do ABC (do álbum Bazar Brasileiro, 1980), e em 1981, Sinais de Amor e Perigo (com Kapenga), entrou na trilha da novela global Obrigado Doutor.
Gravado por artistas dos mais diversos nichos – Luis Melodia, Marinês (que gravou um disco com o Bendegó), Pepeu Gomes, Fernando Mendes, Sivuca, Paulinho Boca de Cantor e Amelinha –, Patinhas, no entanto, estava destinado mesmo a ser bem sucedido na política.
Como jornalista compartilhou um prêmio Esso, numa matéria, publicada pela Isto É com o motorista Eriberto França, que contribuiu para o processo de impeachment de Fernando Collor. Sem o parceiro Gereba, e sem utilizar o apelido de estudante, emplacaria seis grandes sucessos de público em cinco países.
(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)