Desde Marisa Monte, a MPB não tinha uma cantora, também compositora, com assinatura tão legível e tão senhora de si nos projetos que se arvora a tocar, como Maria do Céu Whitaker Poças, a paulistana Céu, um dos nomes mais incensado do pop nacional. Mais uma vez ela faz a coisa certa em Tropix (Som Livre/Slap), seu quarto disco de estúdio. Produzido por Pupillo (baterista da Nação Zumbi), e Hervé Salters (tecladista do grupo francês General Eletriks), Céu manteve do controle do álbum do título à capa, ao repertório (é autora de dez das doze faixas).
A concepção geral ela começou a delinear enquanto fazia shows de Caravana Sereia Bloom, lançado quatro anos atrás: "Mesmo que esteja com um show, estou compondo, pesquisando. Não existe um momento em que inicio o processo de um disco. Mesmo com um trabalho novo, nunca deixo de me alimentar de ideias pra criar outras coisa. No Caravana, eu já estava num processo de contar outra história, de entrar num outro processo musical. Uma das primeiras foi Etílica. Antes, bem no início fiz A Menina e o Monstro, acho que é mais antiga. Sangria era uma melodia que estava pronta há tempos. Nesta eu fiz a parceria com Lira", comenta Céu, em entrevista por telefone.
Tropix tem sido coberto de elogios pela crítica, muitos considerando que este é o melhor disco da cantora: "Nem sei se é o mais elogiado, não consigo comparar, não lembro como foi exatamente o primeiro, ou o segundo. Mas estou superfeliz porque ficou do jeito que eu queria. As pessoas que trabalharam comigo super que compreenderam o que era o disco, então é pra mim é motivo de comemoração". Céu trabalhou no disco com Pupillo (bateria), Pedro Sá (guitarra) Lucas Martins (baixo), Hervé Salters (teclados, programações).
Eles se encarregaram de por em prática o que Céu pensou para o disco, inclusive a produção mesclada, francobrasileira: "Eu estava com vontade de trabalhar com um produtor lá de fora, mas não queria gravar lá fora. Queria uma pessoa com outro olhar do nosso caldeirão brasileiro. Pupillo tem toda bagagem rítmica, é um produtor do Brasil, seria bom misturar com alguém com o background do Hervé, que é um harmonizador incrível, toca muito teclado, tem muita sensibilidade como produtor".
O francês é responsável pelos beats extraídos de um arpeggiator, a maquininha eletrônica com que pontua o álbum. "Os beats, vamos dizer um pouco mais pop, foi uma ideia que eu estava perseguindo, independente da entrada de Hervé. Era uma coisa que estava na minha cabeça, que tinha vontade de executar, e achei que ele faria perfeitamente junto com Pupillo. Tem cordas, tem a tamba bem do Basil, instrumento que Hélcio Milito criou e Pupillo resgatou. Gosto de brincar com coisas eletrônicas, mas nunca tiro um pé do passado, nem do Brasil, a bagagem com que me sinto familiarizada", comenta Céu, que conheceu Hervé Salters através do baterista Curumim, com quem fez turnês na época do primeiro disco, no começo da década passada.
(leia matéria na íntegra na edição do jornal do Commercio)