"O Recife fez por mim o que Olinda nunca fez. Eu, a coquista mais velha da cidade, vou fazer 82 anos e nunca fui lembrada", quem diz isto é Maria da Glória Braz de Almeida, conhecida no Amaro Branco, Olinda, como Dona Glorinha do Coco, homenageada do São João da capital este ano.
Talvez nunca tenha sido homenageada em Olinda porque, até o ano passado, seu nome só era popular no bairro em que mora desde criança: "Nunca fui procurada, eu era esquecida. Era mestre e esquecida. Então encontrei a produtora Isa Melo, que veio e disse que ia levar meu coco pro mundo. Fui pro Prêmio da Música Brasileira, no Rio, estive no meio de artistas como Alceu Valença, Maria Bethânia, estavam todos lá. Já fiz muitas viagens, cantei em São Paulo, no Rio, em Minhas Gerais, e até em Portugal", conta Dona Glorinha.
Ela começou a cantar aos sete anos, aprendendo com a mãe, dona Maria Belém, que também foi coquista, casada com um pescador, assim como ela própria, e a avó, que chama de a "Escrava Joana": "Minha avó morreu com 105 anos, foi escrava fugida. Veio parar aqui no Amaro Branco, conheceu meu avô que era pescador, que escondeu ela. O pessoal veio procurar e não encontrou. Mas ela não era coquista. Minha mãe aprendeu aqui, porque no Amaro Branco sempre se bateu coco por causa dos pescadores, que gostam muito de música. Minha mãe morreu com 97 anos, tenho uma irmã que está com 92, na minha família se demora a morrer", detalha.
Dona Glorinha é memória viva do coco de praia. Estreou em disco aos 80 anos, com Dona Glorinha do Coco, CD indicado ao Prêmio da Música Brasileira na categoria regional, em 2015, com um repertório de cocos compostos, quase todos pela sua mãe, com mais dois de domínio público (canta um que fala da morte de João Pessoa, em 1930).
Está engatilhando o segundo CD, e adianta um dos cocos que gravará: "Hoje eu tenho 80 anos/Na minha vida tenho história/Quando nasci fui batizada de Glória/Glória, glória, eu sou parte da história".