70 anos

Alceu Valença chega aos 70 anos, ainda menino e "maluvido"

Ele aniversaria na estrada, e amanhã canta em Afogados da Ingazeira

JOSÉ TELES
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Publicado em 30/06/2016 às 7:10
Foto: divulgação
Ele aniversaria na estrada, e amanhã canta em Afogados da Ingazeira - FOTO: Foto: divulgação
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Alceu Valença trouxe isso tudo que viveu em São Bento do Una quando veio para a capital estudar ­ o que fazia parte do figurino dos filhos de famílias abonadas do interior. O pai o queria doutor, mas Alceu Valença tinha outros planos: "Virei jogador de basquetebol. Viajei muito pelo Brasil, e deixei de ir pro cinema. Tinha um cara na seleção, Mosquito, com um metro e oitenta e seis senti um micróbio. Deixei o basquete. Fui expulso do (Colégio) Nóbrega, consegui voltar, e fiz o curso clássico.

Com 14 anos, meu tio Lívio e meu pai, me incentivavam pra ler literatura brasileira, toda literatura regional, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego. Então inventei de ser intelectual", recorda. Como intelectual, Alceu Valença redescobriu a paixão pelo cinema, enquanto as meninas do Recife descobriram que ele se parecia com Jean Paul Belmondo, o ator que transgrediu as regras hollywoodianas de beleza, o feio considerado bonito: "Ai aconteceu a nouvelle vague e eu era muito parecido com Jean Paul Belmondo, ele jogava box e tinha nariz quebrado. Meu nariz não era quebrado, mas parecia um artista de cinema. Então as meninas começaram a dar em cima de mim. Passei a fumar por causa de Jean Paul Belmondo, vendo os filmes de François Truffaut e Jean Luc Goddard, sobretudo os que tivesse Jean Paul Belmondo. Curioso é que a morte de Jean Paul Belmondo, em Acossado, de Godard, acontece na frente do teatro onde fiz meu primeiro show em Paris, em 1979.

Em 1968, o país fervia politicamente o futuro astro da música popular brasileira tornara­se acadêmico de Direito, um dos cursos em que os estudantes eram mais politizados: "Deixei de ir ao cinema porque o negócio era política. Tomamos o diretório de Direito da direita. Durante o curso fui para a Universidade de Harvard nos Estados Unidos, quem também esteve lá comigo foi Zé Paulo Cavalcanti". Em Boston, Massachusetts, a bagagem cultural amealhada nos anos em que viveu em São Bento do Una afloraram, e Alceu Valença descobriu­se cantor e compositor: "Cantava numa praça quando passou um jornalista e perguntou o que era aquilo. Disse que música de protesto. Neste momento, eu que não pensava em ser cantor, comecei a ser cantor. Aí volto pra cá, passei a fazer show, tocando minha música".

O PAI DE ALCEU

Doutor Décio Valença, que foi prefeito de São Bento do Una, deputado da Constituinte de 1946, promotor público e procurador do Estado, não queria filho artista. Demorou aceitar, mas acabou aceitando, nos conforme do ditado: "Aquilo que não tem remédio remediado está". Quando o filho tornara-­se irremediavelmente famoso, até exercitou a veia poética com uma quadrinha famosa na família Valença: "Quando sou apresentado/ como agora aconteceu/ sinto que o meu pobre nome antes de mim já morreu/ cada vez sou menos Décio/ cada vez mais pai de Alceu".

"Faço o que eu quero, do jeito que eu quero, sabe por que? Tudo meu foi desta maneira. Com a música foi desta maneira, não queriam que eu fosse artista, cantor. Depois sofri muito bullying. Na época dos tropicalistas, perguntavam o que eu fazia. Eu dizia: faço música. Vamos fazer a música universal? Não, eu faço o que eu quero. Faço meus discos do jeito que quero, eu não pareço é com ninguém, eu sou eu e o boi não lambe. Ninguém manda em mim. Sou como meu pai", avisa o rebelde filho do doutor Décio Valença, que inteira 70 anos e deve ir pra muito mais. A mãe dona Adelma, está com 102, e o pai dela, Adalberto Oliveira de Paiva, em 1976, celebrou os 90 anos lançando uma plaquete com a história da brava São Bento do Una.

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