Tributo

Ainda Há Coração, um tributo para os 70 anos de Alceu Valença

Bandas e intérpretes da cena india nacional participam do álbum

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 09/07/2016 às 6:46
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Bandas e intérpretes da cena india nacional participam do álbum - FOTO: foto: divulgação
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A interpretação de Vou Danado pra Catende, de Alceu Valença & banda, no Festival Abertura, promovido pela Rede Globo, em 1975, é um dos grandes momentos da música brasileira, a mais perfeita fusão já feita de rock com embolada. A música é uma parceria póstuma do filho mais dileto de São Bento do Una (no Agreste de PE), com o célebre filho de Palmares (Zona da Mata), Ascenso Ferreira, falecido em 1965, aos 70 anos.

Alceu Valença ganha um tributo do site Scream & Yell pelos também 70 anos, completados no dia 1º de julho. O tributo é iniciado exatamente com Vou Danado pra Catende, com o grupo The Baggios (Sergipe), que pega o trem de Catende sem sair dos trilhos do original, o arranjo é praticamente o mesmo da música lançada no Festival Abertura. Uma boa versão, já que a primeira, com o autor e a nata do udigrudi pernambucano dos anos 70, é definitiva.

O tributo foi produzido por Leonardo Vinhas (na verdade, mais o curador do projeto) e reúne nomes da novíssima cena indie nacional, em que se insere o veterano baixista Dé Palmeira (Barão Vermelho). De conterrâneos do homenageado tem Bruno Souto e Tagore, em La Belle de Jour, numa versão com guitarras à George Harrison e uns toques psicodélicos, dando roupagem alternativa à moça da tarde ensolarada de Boa Viagem. Enquanto isso, a gaúcha Magabarat aplica um dub instrumental, apropriado às pistas, a Maria dos Santos (de Alceu com Don Tronxo).

O que é normal nos tributos, há os que funcionam e os que não, enquanto outros não vão além da homenagem. Este, felizmente, tem mais das que funcionam. A Nevilton até que tenta reinventar a exaurida Tropicana (Alceu com Vicente Barreto), mas acaba sendo mais uma gravação da canção. Agora em levada de reggae, o vocalista imprime lirismo à uma letra que pede sensualidade. Luiza Lion faz quase o mesmo com Anunciação, e ainda claudica nos tons altos do verso "Tu vens", uma roupagem de ijexá psicodélico (hoje há mais bandas e artistas psicodélicos do que há 50 anos).

A gaúcha Cuscubayo dá um toque hispânico, e pesado sotaque, a Cabelo no Pente, boa versão de uma música pouco lembrada da extensa obra de Alceu Valença. Extensa, portanto, com muita música que merecia ser revisitada. Quase todas as canções escolhidas é de sucessos manjados. Duas exceções acabam sendo das melhores do tributo.

A Judas, com Cópias Perfeitas (1985, da trilha de Roque Santeiro), que enxerta com citações de canções de Alceu, e 17 na Corrente (de Edgard Ferreira, gravada por Jackson do Pandeiro), por Camila Galófaro com Bobo da Corte, versão pesada, voz firme e visceral. No mínimo curiosa a versão manguebeat do baixista Dé Palmeira, para Na Primeira Manhã, mesmo ele almejando recriar a canção, que tem duas versões matadoras, do próprio Alceu Valença, e de Maria Bethânia.

O Duo Noir, traz programações bem aplicadas à Solidão, enquanto a uruguaia Papina de Palma canta em espanhol Coração Bobo, uma inusitada embolada trip hop. Os gaúchos capricharam neste tributo. Lara Rossato, com Ariel Migliorelli, reiventam o ótimo lado B Batendo o Tambor. Fechando o tributo, com o mineiro Raphael Evangelista, em Tomara numa versão instrumental.

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