"A música é nas costas e o palco é no chão", resume Clayton Barros o que é o Violeiro Elétrico, um alter ego que será apresentado ao público do Recife, sábado, 17h, no Museu do Estado, no projeto Ouvindo e Fazendo Música. Porém, o Violeiro Elétrico não é assim tão simples. Tecnicamente é um traje formado por um gibão de couro, ao qual foi acoplado, nas costas, um amplificador. Ao vestilo Clayton assemelhase a um vaqueiro futurista.
Mas ainda não é tão simples. Idealizado por ele, e montado por Alexandre Barros (que já foi baterista da Babi Jaques e Os Sicilianos), o gibão do Violeiro Elétrico é dotado de uma mesa de som de quatro canais, enquanto a caixa de som foi munida de três amplificadores e dois pedais.
Esta pequena parafernália é alimentada por uma bateria cuja carga pode se estender a duas horas: "O peso é de trinta quilos, mais ou menos o da indumentária de um caboclo de lança do maracatu rural, e uso sem direito ao azougue, a bebida com pólvora que ele bebem", brinca Clayton Barros, "É uma exaltação ao artista do dia a dia", sintetiza novamente Clayton Barros, mas o "artista" que o influenciou a criar o Violeiro Elétrico não é apenas o da música.
Ele se refere também aos camelôs, que viajavam pelo Nordeste comercializando o óleo do peixe elétrico, e atraiam o público com um Microfone pendurado seguro pelo pescoço, (como Silvio Santos até hoje usa), e um amplificador, geralmente rouco, mas suficientemente audível para os fregueses, o vendedor de folhetos de feira, que também usava a eletrônica, microfones ou megafones, para propagar suas histórias rimadas. "Não é um resgate, porque cultura popular não se resgata, ela se transforma, louvo estes artistas que trabalhavam nas feiras, nas ruas, sem ter os holofotes ligados para eles".
As influências de Clayton Barros vão além do artista popular e chega, indiretamente, à publicidade. Ele se diz fascinado, particularmente, pela música dos comerciais, sobretudo as que Carol Fernandes (falecido em 2016) compôs para os comerciais produzidos pela Itaity: "Adorava aqueles comerciais. Hoje se usa muito música estrangeira, e eles faziam coisas muito boas com uma música voltada para os ritmos, e os costumes regionais", comenta Clayton Barros.
Ele foi um dos fundadores do Cordel do Fogo Encantado, um grupo surgido de teatro que debandou para a música popular (embora com performances teatrais do vocalista Lira), com uma mistura original de poesia sertaneja, percussão de terreiro, com a harmonia do violão de Clayton Barros, que preenchia os espaços entrevoz, atabaques e ilus. A banda, no entanto, acabou abruptamente depois do terceiro disco, em 2010 (estaria completando 20 anos em 2017).
Com o fim da banda, Clayton Barros, momentaneamente, perdeu o chão, que agora quer tornr palco, mas logo se recuperou e foi à luta. Trabalhou em estúdios, tocou pequenos projetos, até materializar, alguns meses depois, o grupo Os Sertões, com Rafael Duarte (baixo e voz), Deco Trombone (trombone e voz) e Pernalonga (bateria).
A banda passou quase dois anos amadurecendo sua sonoridade. O disco de estreia só foi lançado em 2013. Bem divulgado, Os Sertões saiu pelo Brasil numa turnê que durou um ano e meio. Foi uma banda bemsucedida dentro do panorama atual do mercado, mas que não foi fácil para Clayton Barros. Ele não queria ter o nome à frente de um grupo, não se sentia ainda preparado e queria driblar as inevitáveis comparações com o Cordel do Fogo Encantado. "Os Sertões foi uma espécie de laboratório, não apenas para mim, mas para os outros integrantes. O disco é uma miscelânea, um apanhado da música de cada um. Assim como eu, os outros músicos estão fazendo seus projetos. Mas o grupo não acabou, está adormecido. A gente pode voltar, só não sabemos quando".
Os Sertões foi apenas um dos muitos caminhos que Clayton percorreu ao longo de sete anos, enveredando pela produção de discos, associado à Sunset Produções. Fez o álbum de estreia de Tagore, aperfeiçoou os dotes de fotógrafo e, com Felipe Falcão, dirigiu o documentário sobre o grupo Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis, banda da era do manguebeat, das primeiras a gravar por uma multinacional, a Sony Music. A Lenda do Jorge Cabeleira, o doc, chegou às telas em 2016.
O Violeiro Elétrico, o inusitado projeto paralelo, foi sendo maturado aos poucos e o artista já vislumbra outros itinerários para ele: "Não tenho ideia de fazer disco deste projeto, porque ele está associado ao visual, mas ao mesmo tempo ele pode se desdobrar em outras funções, como, por exemplo, um apresentador de eventos, um mestre de cerimônias. Nesta ideia tem também coisas que gosto de ler da mitologia, e até do Flautista de Hammelin, aquilo do cara tocar e as pessoas seguirem ele.
REPERTÓRIO
Por enquanto, o Violeiro Elétrico é um artista ainda sem repertório próprio. No show de hoje, Clayton Barros se reconcilia com a música da Cordel do Fogo Encantado, a maioria criada por ele, em parceria com Lirinha e outros integrantes do grupo: "Canto também músicas do disco de Os Sertões, de Geraldo Azevedo e mais algumas inéditas. É um show feito para um ambiente intimista. O gibão ainda pode ser aperfeiçoado, com amplificadores com mais qualidade sonora", diz o músico, que não arrisca palpites sobre o violeiro plugado. Diz que se não continuar com este, surgirão outros projetos: "Não ando armado. Ando bem protegido".
Projeto Ouvindo e Fazendo Música, com Clayton Barros Violeiro Elétrico. Às 17h, no Museu do Estado, Av. Rui Barbosa, 960. Ingressos: R$ 6 e R$ 3. Telefone: 3184.3155