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Disco

Danilo Caymmi em um disco para o mestre Tom Jobim

Aos 15 anos Danilo gravou pela primeira vez com o maestro

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 29/01/2017 às 12:00
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Aos 15 anos Danilo gravou pela primeira vez com o maestro - FOTO: foto: divulgação
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Danilo Caymmi gravou com Tom Jobim pela primeira vez aos 15 anos. Foi quando seu pai dividiu com o maestro o álbum Caymmi Visita Tom (1964, Elenco). "Quando conheci Tom, eu começava a tocar flauta. Estava tendo as primeiras aulas. Papai me comprou a primeira e pagava professor pra mim. Jorge Amado me trouxe um método da Europa. Foi um privilégio ter vivido com essas pessoas. Tom, Dorival Caymmi, Jorge Amado que, antes de tudo, são simples, próximas do povo, bebendo do povo, devolvendo ao povo e respeitando o povo, o que é mais importante", diz Danilo Caymmi, em entrevista por telefone, em 25 de janeiro, data do aniversário de 90 anos de Antônio Carlos Jobim, a quem presenteou com um disco de canções compostas pelo maestro.

Danilo Caymmi Canta Tom Jobim (Universal Music) traz onze músicas, uma escolha afetiva que recaiu sobre aquelas que ele tinha mais afinidade. E poucos músicos podem cantar e tocar Jobim com mais propriedade. Além de conhecê­lo desde a adolescência, Danilo entrou, em 1983, para a banda de Jobim, da qual somente saiu com a morte do compositor (em 8 de dezembro de 1994). "Ele fez arranjos lindíssimos para os shows naquela época. Também para os vocais, com um critério bom pra caramba. Os homens cantam no agudo, e as mulheres no grave. No palco parecia fácil, mas a gente passava uns 17 dias para montar um espetáculo", conta Danilo.

Quando ingressou na Banda Nova, Danilo Caymmi já trilhava uma carreira própria, de sucessos nacionais, entre eles Andança (1968, com Paulinho Tapajós e Edmundo Souto) ou Casaco Marrom (Guarabyra e Renato Correa). Com o parceiro Edmundo Souto, ele se iniciou na composição aos 19 anos, com Candomblé, lançada pelo grupo de Mário Castro Neves, em 1967. Na mesma época, tornou­se parceiro de Caetano Veloso, mais o pianista Sérgio Fayne, em O Penúltimo Cordão, lançada por Nana Caymmi, também em 1967.

Nos dez anos em que trabalhou na banda de Tom Jobim, os dois não fizeram nenhuma parceria. "Para trabalhar com uma pessoa assim você tem que se localizar muito bem, separar o profissional da intimidade. Sempre fui muito criterioso com isso. Tom foi meu amigo, meu compadre, muito sincero, muito generoso, muito feliz. Um cara de um humor muito fino. E um adendo: fazia um churrasco de galinha que era muito gostoso. Aliás, churrasco de frango, pra ser atual", pondera o flautista. O "Brasileiro" não era apenas um dos sobrenomes de Tom Jobim. Ele entendia muito de Brasil. Como estaria hoje, aos 90 anos, com um país que parece estar à deriva? Pelo que conhecia do maestro, Danilo Caymmi arrisca um palpite: "Olha, ele estaria muito confuso, decepcionado com o andamento dessas coisas todas. Principalmente dessa desonestidade desenfreada. Deveria ficar meio abalado, em estar trabalhando num ambiente de tanta corrupção".

DISCO

Danilo Caymmi Canta Tom Jobim é um disco sem rebuscamento nem ostentação, feito o próprio homenageado, com vozes e flautas de Danilo Caymmi, violão e arranjos de Flávio Mendes e o violoncelo de Hugo Pilger. Danilo Caymmi, que completa 69 anos em 2017, canta cada vez mais parecido com o pai Dorival (mas sem o vibrato). O repertório abre com Bonita (1964), música que nunca foi um grande sucesso, mas é uma das preferidas por quem canta Jobim. Ela dá o tom do conceito do álbum, que tem poucos dos hits do compositor, embora, paradoxalmente, a maioria seja bem conhecida. Danilo Caymmi, tido mais como músico do que como intérprete, é um ótimo cantor, e o músico de talento influencia o intérprete na forma de abordar a melodia e no fraseado.

Querida, tema de abertura da novela global O Dono do Mundo (1991), ganha um arranjo que realça o cello de Hugo Pilger, perdendo o dançante compasso de fox trote e ganhando coloração impressionista. O mesmo que acontece com Tema de Amor para Gabriela, extraída de mais uma trilha de novela, Gabriela (1975). Enriquecida pelas harmonias do violão de Flávio Mendes, sai do lugar comum que a maioria dos intérpretes imprimem à música. Um disco de uma qualidade irrepreensível, assim como a música de Tom Jobim, que ganhou um belo presente de aniversário

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