Vídeos nos quais a poetisa e historiadora Isabella Puente, a Bell Puã, recita trechos contundentes durante a final do Slam BR 2017, em São Paulo, têm circulado aos montes pelas redes sociais desde o final de dezembro. A pernambucana de 24 anos foi a grande vencedora do evento, o primeiro representante nacional do slam, tipo de batalha de poesia falada onde os poetas – ou slammers, recitam poesias autorais, de até três minutos, sob avaliação de um júri.
O slam surgiu nos anos 1980, nos Estados Unidos, e está ligado à cultura hip hop. Além de boa escrita e declamação, a modalidade exige do artista o cumprimento de regras que vão do respeito às minorias à proibição do uso de qualquer acessório que possa facilitar a performance. Foi apenas com microfone em mãos que Bell venceu outros cinco poetas, colocando a poesia urbana local entre as que disputarão a Copa do Mundo de Poesia Falada, que acontece este ano, em Paris.
Bell foi a primeira ganhadora do Slam das Minas PE, o primeiro organizado aqui, exclusivamente para mulheres, sob intermédio das poetisas Patricia Naia e Amanda Timoteo. Para que possam acompanhar Bell na ida à França, o grupo abriu um financiamento coletivo com o intuito de alcançar R$ 6 mil até o dia 5 de abril. Deste total, R$ 815 já foram arrecadados, cerca de 14% do valor. Para contribuir, basta acessar o site www.vakinha.com.br e doar qualquer valor a ser pago via boleto ou cartão de crédito.
“Tenho até 15 de fevereiro pra enviar seis poesias para a organização (da Copa) traduzir para inglês e francês. Mas na batalha eu recitarei em português”, conta Bell, que continua recebendo elogios pela participação na etapa brasileira. “Os outros poetas me ajudaram muito, me incentivando, trocando ideia, fiz grandes amigos”, detalha ela ao JC.
“Eu ouvi algumas vezes: ‘a poesia te levou longe, né? Vai até para Paris!’. É verdade, versei umas vivências e fui galgando espaços. Mas não foi essencialmente a poesia (que a levou longe)”, pontua Bell. “Nada teria alcançado sem o árduo exercício de empatia que despiu minhas certezas e me fez crescer um tanto. Se colocar no lugar do outro, sabe? Pegar aquela sua piada, aquela sua verdade absoluta, aquela sua arrogância de vomitar falsos saberes e transformar em outro”.
É munida por esse exercício que ela atravessará o mundo, rasgando versos sobre discriminações, opressões, mas também orgulhos, como fez nos versos a seguir, declamados na capital paulista. “É de ter um ataque ator de novela quando imita nosso sotaque / É que pra vocês nós é caricatura / Não importa de onde eu venho, me chamam Paraíba / Me respeita, boy / Sou da terra de Capiba / Mestre Vitalino, Paulo Freire, Manuel Bandeira / Brega, frevo, coco de roda, maracatu / Cultura popular pulsante, Lia de Itamacará, Luiz Gonzaga lá do Exu / Pernambuco, só da tu!”
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SLAM DAS MINAS 2018
As batalhas do Slam das Minas em Pernambuco retornam após o carnaval, mas é possível ter uma ideia do quem vem por aí antes disso. No próximo dia 20/1, será realizada a Oficina de Formação de Slammasters, com o intuito de orientar novos apresentadores de slam.
A aula será ministrada por Bell Puã, Patrícia Naia e Mariana Ramos, das 13h às 18h, no Espaço Casarão (Rua da Santa Cruz, 190, Boa Vista). Para participar é preciso enviar nome, idade e endereço completo, além de informar como conheceu o slam e porquê se interessa em participar da oficina para o e-mail slamdasminaspe@outlook.com, citando estar ciente da taxa de inscrição, que custa R$ 10.
“Vamos tentar fazer mais de um slam, por isso queremos fazer tudo com antecedência e garantir que as atividades rolem o ano todo. Ainda pensamos em organizar mais de um campeonato, formar uma galera para que aconteçam outros slams, além do Das Minas, pelo Estado”, encerra Patrícia Naia.