Ao longo de sua carreira, que já atravessa cinco décadas, Zezé Motta se consolidou como um ícone nos palcos, na televisão e no cinema, além de encantar com interpretações certeiras do cancioneiro popular em cerca de 10 discos. Seu talento e engajamento ajudou a desconstruir preconceitos e abrir espaço para mais intérpretes negros, mas muito ainda precisa ser feito, como ela ressalta. A multiartista compartilha suas experiências, nesta terça-feira (13), no 2º RioMar Entre Elas, evento que acontece no teatro do centro de compras e conta ainda com as presenças da influenciadora digital Rayza Nicácio, da especialista em marketing digital Martha Gabriel; da empreendedora Maria Ilza Conceição e da artista plástica Joana Lira.
Durante sua passagem pelo Recife, Zezé Motta pretende mostrar à plateia como, ao longo das últimas décadas, as questões ligadas à promoção da igualdade de gênero e raça têm – felizmente – ganho força, apesar de já estarem em pauta há tempos.
“Não dava mais para fingir que estava tudo certo, de perpetuar essa ideia de que o homem é mais forte, enquanto a mulher é ‘frágil’. Já estava mais do que na hora de reconhecer que as mulheres são competentes em todas as áreas. Recentemente, estamos conquistando esse reconhecimento na sociedade, as questões estão sendo mais divulgadas pela imprensa, mas ainda há muitos com pensamento retrógrado. Recentemente, eu estava em um voo que seria pilotado por uma mulher e o passageiro do meu lado soltou a seguinte frase: ‘É, vamos ter que arriscar’. Fiquei tão revoltada que mudei de lugar e, sentada com outras mulheres, decidimos que ao pousar iríamos aplaudir. Todos a bordo se juntaram a nós”, afirmou, reforçando a importância da sororidade.
Ela reforçou ainda a necessidade de parar com o silenciamento que historicamente foi imposto às mulheres e de expor a violência de gênero e a diferença salarial. Outro ponto ressaltado por ela foi a urgência de prestar atenção às demandas do feminismo interseccional.
“Se a mulher historicamente já ganha menos que o homem, a mulher negra sofre mais ainda com isso. Já recebi muitos salários inferiores ao de colegas. Às vezes vazava o valor do salário de alguns e eu me perguntava a razão por receber bem menos. É uma discrepância. Não posso reclamar da vida, vivo muito bem, graças a Deus não me falta nada, mas é estranho”, reforça.
A atriz, que abriu portas para muitos artistas negros, acredita que a situação está melhor na televisão, com mais diversidade, mas que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
“Às vezes, a sensação é que estão fazendo um favor quando contratam o negro. Mas já é uma conquista termos mais diversidade em relação aos papéis oferecidos aos artistas negros. Sempre que começa uma novela, conto quantos negros estão no elenco e qual a importância da participação dos atores e das atrizes. Ainda temos muita luta pela frente, ainda falta muito espaço para o ator negro na mídia, mas estamos avançando”, reforça.
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REVOLUÇÃO CRESPA
A influenciadora digital Rayza Nicácio, uma voz ativa nas redes sociais em prol dos cabelos naturais, falará sobre autoaceitação e sobre as incipientes mudanças no mundo da beleza.
“É natural que uma coisa que está sendo vista pela moda como mercado [ganhe destaque]. O nosso cabelo [CRESPO]acabou entrando na moda. Eles tiveram que engolir e aceitar o universo do cabelo crespo, natural. Ter pessoas hoje que estão na moda e têm o cabelo natural representando capas de revista, comerciais, é muito importante para nossas crianças e adolescentes”, apontou.
2º RioMar Entre Elas, com Zezé Motta e Rayza Nicácio – hoje, às 19h, no Teatro RioMar (Av. República do Líbano, 251, Pina). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). Informações: 4003-1212
