Entrevista/Marco Polo

Ave Sangria, 44 anos depois, grava segundo disco de estúdio

Marco Polo fala sobre novo trabalho e as expectativas da banda

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 28/04/2018 às 8:42
foto: Andre Holanda/Divulgação
Marco Polo fala sobre novo trabalho e as expectativas da banda - FOTO: foto: Andre Holanda/Divulgação
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A Ave Sangria está escrevendo uma das histórias mais peculiares da MPB. Nascido como Tamarineira Village em 1973, no ano seguinte, o grupo foi contratado pela gravadora Continental, que abria as portas para o ainda incipiente rock nacional. Da movimentada cena udigrudi pernambucana dos anos 70, foi o grupo a ir mais longe. Mas não por muito tempo. Quando algumas faixas do disco Ave Sangria começavam a ser tocadas no rádio, o disco foi proibido, e recolhido das lojas.

O alvo da censura era a faixa Seu Valdir, que narrava a paixão de um jovem por um cara mais velho. O LP foi relançado
sem a faixa vetada, mas já havia passado o momento da banda. Ironicamente, Seu Valdir seria gravada, em 1981, por Ney
Matogrosso, que foi lançado com os Secos & Molhados no mesmo pacote da Continental que lançou o Ave Sangria.

Quatro décadas mais tarde, já sem dois dos integrantes da formação original (Israel Semente Proibida e Agricio Noya), o Ave Sangria passou a ser cultuada pela geração nascida nos anos 1990, que superlotou o Teatro de Santa Isabel, em 2014, para o show de relançamento do álbum de estreia e de Perfumes y Baratchos, disco com o registro do show de despedida da banda, no mesmo teatro, em dezembro de 1974.

Agora, sem o guitarrista Ivinho, falecido há três anos, o Ave Sangria, 45 anos depois, gravou o segundo álbum, Vendavais. Marco
Polo, vocalista da maioria das faixas, que divide os créditos das composições com Almir Oliveira, conversou sobre o novo disco, Oliveira, conversou sobre o novo disco, que
sai em CD e vinil.

ENTREVISTA

JORNAL DO COMMERCIO – Qual a expectativas de vocês para este disco?
MARCO POLO – Não costumamos criar expectativas, assim como aconteceu no primeiro disco. Apenas tentamos fazer o melhor que podemos. Se a gente fica satisfeito está de bom tamanho. Se a crítica ou o público vão gostar não é com a gente, é com eles. Isso não significa indiferença, mas sim o fato de que a gente faz o disco visando principalmente nosso gosto e exigências de qualidade. As poucas pessoas fora do grupo que ouviram uma ou outra faixa estão gostando.

JC – As músicas foram feitas para este álbum, ou composições que já estavam prontas?
MARCO POLO – Com exceção de uma faixa instrumental feita no estúdio, todas as músicas são do fim dedécada de 1960 e início da década de 1970. Apenas em duas mexi um pouco na letra porque a linguagem e as circunstâncias eram muito características de uma época passada. Não alterei o sentido original das letras apenas adaptei às novas circunstâncias e novas linguagens. São músicas de minha autoria ou de Almir, e dos dois em parceria. Uma novidade é a gravação de uma música de Israel Semente. E uma faixa bônus resgatada de uma gravação em cassete, com Ivinho tocando. São todas músicas que nunca foram gravadas
em disco e até mesmo apresentadas em shows.

JC – Dá pra adiantar o título e o conceito do disco, se é que ele tem um conceito?
MARCO POLO – Ao contrário do primeiro, que levava apenas o nome da banda, este tem um título: Vendavais, nome de uma das músicas. Fazemos uma recriação do psicodelismo (leia-se letras delirantes e arranjos elaborados), mas também, sem fazermos exatamente música de protesto, questionamos questões morais, sociais e políticas. Isso sem falar de um lado inteiramente lúdico, de entretenimento. Afinal somos basicamente uma banda de rock, uma banda de rock à nossa maneira muito particular.

JC – A banda está com novos integrantes, como foi a interação entre vocês?

MARCO POLO – Nosso produtor Juliano Holanda procurou recriar a sonoridade característica da banda,
mas sem copiar o que já havia sido feito. Assim, vamos de músicas lentas e acústicas a rocks pesados,
passando por algumas surpresas rítmicas que talvez deem o que falar. Foi uma experiência gratificante gravar
num estúdio de altíssima tecnologia, o Órbita, de Carlos Trilha. Começávamos às 10 da manhã e íamos até
10 da noite, dependendo do pique. Os três elementos jovens que completam a banda têm seus trabalhos
autorais individuais, mas dizem (e provam isso tocando) que quando estamos juntos eles fazem parte
orgânica da Ave Sangria.

JC – Numa idade em que as pessoas se recolhem, se aposentam, você volta a encarar a música em tempo
integral, fala um pouco sobre isso.
MARCO POLO – Continuo escrevendo livros de poesia e prosa, continuo compondo. Não penso em me aposentar. Toda minha vida só trabalhei no que gostava: como jornalista da área cultural, como escritor, como artesão, como músico etc. Quando você faz o que gosta trabalhar não pesa tanto.

JC – Os fãs do grupo, pelo menos os que vão aos shows, são bem jovens, que curtem a música do Ave Sangria de décadas atrás. Como você imagina irão reagir ao novo repertório?

MARCO POLO – Como os jovens vão reagir ao novo repertório? Isso é uma incógnita, cara. Mas acredito
que eles podem se identificar, assim como se identificaram com o repertório do primeiro disco.

JC – Então prontos pra estrada de novo? E quando o disco chega às lojas?
MARCO POLO - O nosso cronograma é mandar algum single para as plataformas sociais entre final de
junho e início de julho. Logo em seguida, lançar o disco em versão CD e vinil. O show de lançamento
estamos pensando para setembro, início do verão pernambucano.

 

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