REPRESENTATIVIDADE

Fotógrafas pernambucanas abordam força feminina em ensaios artísticos

Em seus projetos, as fotógrafas têm auxiliado mulheres a recuperar a autoestima, superar traumas e quebrar padrões

Julia Aguilera
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Julia Aguilera
Publicado em 04/05/2018 às 18:00
Amanda Pietra
FOTO: Amanda Pietra
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Com sentimento. Com conversa. Com conexão. É dessa forma que três jovens fotógrafas pernambucanas vêm atuando, cada uma em seus projetos, na busca pela representação feminina. Cada registro carrega a história de uma mulher forte procurando o autoconhecimento ou a superação de traumas.

Amanda Pietra tem 21 anos e desde os 14 vem se reinventando com a câmera nas mãos. Em seus trabalhos, mulheres e suas singularidades estão em foco. Nos três projetos que desenvolve continuamente - "Elas em elos", evidenciado a mulher em conexão com a natureza; "Identidade de Cores", que usa cores como arma política para questões sociais que rodeiam as mulheres; e "Orgasmos Múltiplos", que evidencia a sexualidade feminina após os 40 anos -, Amanda faz dessas fotografias objeto político e representativo. “O que é que transforma, se não o empoderar? Se eu não estiver empoderando outras mulheres, como elas vão assumir esse lugar que é delas por direito?” questiona.

Para a fotógrafa, cada ensaio é único e vai sendo construído a partir das experiências do momento. “Eu procuro conhecer a pessoa que eu estou fotografando e procuro que a pessoa me conheça, para que não seja só mais uma foto, só mais um arquivo JPEG. Quero que ela possa lembrar e entender que ela é o projeto”, comenta a jovem, que é natural da cidade de Garanhuns, no Agreste pernambucano.

Em “Identidade de Cores”, cada ensaio usa uma cor como palco para manifestações. Até agora já foram usadas rosa, representando a bulimia - neste caso, o ato de regurgitar o que a sociedade nos faz engolir; o azul, contra o racismo; o vermelho, simbolizando a menstruação; e o roxo, construído a partir da mistura de glitters vermelhos e azuis, representando a visibilidade lésbica. Segundo Amanda, pelo menos mais três cores serão utilizadas nesse projeto.

Superação

Maria Carolina Alves se formou em fotografia e usou o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para registrar histórias de garra. Em seu projeto “Flores ao invés de cinzas”, a jovem de 20 anos ajudou cinco mulheres abusadas sexual, físico ou psicologicamente a superarem seus traumas.

Em cada ensaio, flores presas à curativos foram colocadas nos locais em que foram vítimas de assédio ou agressão. Para Carolina, o projeto é uma forma de resgate de identidades. “Existe todo um processo pelo qual a vítima passa após o abuso e um dos passos primordiais é o diálogo. A partir do momento que se deixam fotografar, permitem que eu dê voz a elas”, explica.  

Aos poucos, durante cada ensaio, as histórias foram sendo contadas. Teve choro e desabafo. A jovem acredita que as conversas foram libertadoras. “Elas se sentiram bem diferentes ao falar comigo sobre o que tinha acontecido com elas. É como se o peso de se sentir culpada tivesse saído”. Mas a mudança não aconteceu só em quem foi fotografada. Depois dos cliques, Carolina disse ter tido a sensação de dever cumprido. “O mundo é constituído por vidas, e se tocamos a vida de uma pessoa, já estamos mudando uma parcela do mundo”, conclui.

Thaísa Falcão foi uma das mulheres fotografadas no “Flores ao invés de cinzas”. Para ela, o projeto reacende a importância de discutir o tema. “É importante e urgente dar visibilidade [...] Falei o que nunca tinha tido coragem e oportunidade de falar”, pontua. Depois de ver as fotos prontas, ela, que também é fotógrafa, diz ter se emocionado com o resultado.

Autoestima

Também pensando em exaltar a força feminina, a fotógrafa Céu Ramos, de 27 anos, criou, em outubro de 2016, o projeto “porElas”. Nele, os encontros são tudo, menos apenas um ensaio. Em quase dois anos, cerca de 70 mulheres de 14 estados brasileiros, com idades entre 18 e 100 anos, já tiveram seus corpos fotografados.  

Os locais onde os ensaios são feitos variam de acordo com a preferência das participantes do projeto. Sempre despidas, as mulheres são fotografadas de forma intimista e crua. Para Céu, o projeto tem como missão o aumento da autoestima e o gerenciamento do empoderamento feminino. “Quero poder mostrar a real beleza do corpo feminino, sem padrões”, afirma.

A fotógrafa conta que conversa com a mulher que vai ser fotografada por alguns dias para que se crie um vínculo de confiança e a experiência seja ainda mais especial. “De início, muitas ficam tímidas, mas depois de uns 20 minutos elas já estão tão libertas que até esquecem que estão nuas. Isso é fantástico”, comenta a fotógrafa.

Cada um com suas características e propostas, os projetos de Céu, Maria Carolina e Amanda Pietra convergem para um ponto em comum: a representatividade do ser feminino, em sua forma mais pura, na sociedade.

Amanda Pietra
Identidade de Cores: Roxo - Sapatão - Amanda Pietra
Maria Carolina Alves
Flores ao invés de cinzas - Maria Carolina Alves
Céu Ramos
porElas - Céu Ramos
Amanda Pietra
Identidade de Cores: Rosa - Bulimia - Amanda Pietra
Amanda Pietra
Elas em elos - Amanda Pietra
Céu Ramos
porElas - Céu Ramos
Amanda Pietra
Orgasmos Múltiplos - Amanda Pietra
Maria Carolina Alves
Flores ao invés de cinzas - Maria Carolina Alves
Amanda Pietra
Identidade de Cores: Vermelho - Menstruação - Amanda Pietra
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