Ascensão

Pernambucano Robson Torinni em busca do personagem 'com defeito'

Natural de Garanhuns, o ator e produtor interpreta personagens tortuosos

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 02/12/2018 às 8:00
Lucio Luna/Divulgação
Natural de Garanhuns, o ator e produtor interpreta personagens tortuosos - FOTO: Lucio Luna/Divulgação
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Desde “pivete”, como define, Robson Torinni sabia que queria ser ator. Natural de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, ele entendia que esse sonho poderia ser limitado por uma série de fatores, do preconceito com as profissões artísticas até a localização geográfica de sua cidade, mas afirma que sempre teve confiança que a vocação se concretizaria. Para isso, agarrou as oportunidades que apareceram e, por caminhos não lineares, hoje considera que está no lugar que sempre desejou, recebendo elogios da classe artística e do público carioca por sua atuação na peça Tebas Land, em cartaz no Oi Futuro.

A paixão pelo teatro fez com que ainda na época da escola Robson participasse de atividades ligadas à área. Integrou o grupo do Colégio Diocesano, em sua cidade natal, onde atuou ao lado de Pedro Wagner, do grupo Magiluth e que hoje também brilha nos palcos e em projetos audiovisuais no âmbito nacional.

Em 2006, venceu um concurso de modelos e enxergou ali a chance de chegar mais próximo de seu objetivo. Mudou-se para São Paulo, onde trabalhou na área de moda por questões de sobrevivência, mas passou a dedicar-se ao estudo de interpretação. Na Escola de Atores de Wolf Maya fez o teste e foi chamado para integrar a Oficina de Atores da Globo e, mais uma vez, arrumou as malas com destino ao Rio de Janeiro. Fez algumas participações na televisão, mas seus desejos eram outros.

“Queria fazer faculdade, então resolvi estudar artes cênicas. Hoje, sou bacharel. Então, quando acabei a faculdade, decidi que iria produzir meus próprios projetos porque eu sempre era convidado para fazer papéis que não me interessavam. Faço sempre vários testes e são os mesmos personagens: era sempre o príncipe no teatro e o bonitinho na televisão”, lembra.

Em um festival de produções universitárias no Rio de Janeiro, ele conheceu o diretor argentino Victor Garcia Peralta, um grande nome em seu país de origem e também respeitado no cenário brasileiro. Robson, então, apresentou a ele o texto de A Sala Laranja, da também argentina Victoria Hladilo, e expressou seu desejo de montar a obra. Seria a primeira produção do pernambucano. Victor topou.

“Produção é uma parte bem sofrida, te exige muito e é preciso muita força de vontade. A gente vive um momento nada fácil para o teatro, para a cultura. Não há apoio e você tem que meter a cara. Ainda mais para quem está começando porque você recebe muito ‘não’ e é difícil conseguir trabalhar com os profissionais que te interessam. Graças a Deus tive sorte de Victor comprar minha ideia e, como ele é muito querido, as pessoas se aproximaram. Hoje, sinto que já há outro olhar para o meu trabalho, principalmente agora, com Tebas Land”, reflete.

De fato, a adaptação da peça de Sergio Blanco é um tour de force do ator. Seu personagem, Martín, é atormentado, partido. E é esse tipo de papel que mais fascina o artista.

“Gosto do submundo, dos lugares obscuros do ser humano, aquelas áreas que a gente não quer ir porque machucam. Até porque, de alguma maneira, falo de mim”, afirma.

RAÍZES

Ciente de que o cenário de artes cênicas em Pernambuco hoje é mais aberto, ele diz que quer muito voltar a trabalhar no Estado.
“Se fosse hoje, eu não sairia de Pernambuco. Hoje é muita visibilidade e as pessoas vão atrás (dos artistas locais). Mas, naquela época foi o que tinha que ser. Não me arrependo de nada”, diz.

Ele lembra com carinho quando se apresentou com o espetáculo Dzi Croquettes em Bandália, em 2014, no Teatro de Santa Isabel. Sua família fretou um ônibus e veio toda de Garanhuns. Agora, ele espera voltar com Tebas Land ao Recife e no festival de inverno de sua cidade.

Ano que vem, já tem entre seus projetos filmar um curta em Garanhuns, no sítio de sua família, além de gravar uma série, atualmente em fase de negociação.

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