Do seu uso inicial para publicidade à sua ressignificação como arte urbana, os lambe-lambes (cartazes artísticos de fácil reprodução cujos formatos e conteúdos são variados) são uma forma de expressão artística pensada para espaços abertos, na cidade, que tensiona questões sociais e cria possibilidades de diálogo. De 28 a 30 de agosto, o Museu Murillo La Greca recebe a primeira edição do Festival MURAL (Movimento Urbano de Resistência e Arte do Lambe), que colocará a prática no foco, com programação gratuita que contempla encontros de artistas, oficinas e debates.
“Eu e Russo tivemos a ideia no início deste ano de fazer um festival para a prática do lambe-lambe. Somos artistas urbanos e utilizamos a rua como suporte para nossas intervenções. A gente, vendo a necessidade de haver uma articulação maior entre os artistas de lambe-lambe do Estado e nacionalmente, inscreveu um projeto para fazer”, conta Filipe Gondim.
A partir desse desejo inicial, Filipe e Russo construíram uma rede colaborativa com artistas do Recife, Olinda e da Região Metropolitana que também atuam na prática do lambe-lambe. Nessa articulação, se uniram a Anne de Souza e Mário Miranda, que assina como Bros, para montar a equipe do festival. Os pernambucanos estabeleceram ainda uma ponte com o artista visual Alberto Pereira, do Rio de Janeiro.
Com a temática Pedra, Papel e Tesoura: Dispositivos de Atravessamentos em Tempos de Guerra, o festival chega à primeira edição com a intenção de divulgar e fomentar a cena local sempre pensando em um contexto amplo, que agregue.
Independente, a ação venceu um edital de ocupação do Murillo La Greca e também conta com apoio do Sesc Pernambuco. A ação foi desenvolvida em três eixos. Um deles é o formativo, com quatro oficinas, todas com inscrições já esgotadas, que acontecem de hoje até sexta.
“As oficinas debatem e fomentam diversos temas que universalizam a prática do lambe, então vamos ter oficinas sobre reciclagem de papel, sobre o olhar afetivo sobre o cenário urbano, entre outros temas”, enfatiza.
O segundo eixo evoca o encontro para fomentar o pensamento em torno da prática artística. No sábado, às 14h, será realizada uma roda de conversa com a temática do festival e que contará com a participação de Alberto Pereira.
“Achamos que o tema deste ano dialoga com a cidade, sobre a arte urbana, a conjuntura nacional, com a censura que está acontecendo. E também como a gente pode se articular enquanto artista para fortalecer a nossa prática”, explica.
COLETIVIDADE
Ainda no sábado, como culminância do festival, os artistas produzirão um mural coletivo, a partir das 15h. Esta obra é resultado de uma convocatória aberta a artistas de todo o mundo, através da qual a organização recebeu trabalhos dos Estados Unidos, da França, Alemanha, países da América Latina e de vários estados brasileiros. Também serão utilizados na intervenção lambe-lambes criados pelos participantes das oficinas oferecidas pelo festival.
“Para a gente, essa é uma das práticas mais importantes porque tem a ver justamente com esta troca artística internacional em favor do fortalecimento da arte de rua no nosso estado”, completa Filipe.