“O Recife, João, todos já sabem que é um prato raso. A água é quase irmã da terra, beijando a flor das ruas e as pontes quase se apoiam na massa líquida, e, para ver a cidade, é preciso andar toda a cidade”. Na crônica Véspera de São João no Recife, o capixaba Rubem Braga evoca as características de uma cidade plana, anfíbia, cujo coração diferenciado tem, ao invés de artérias, pontes de ferro e concreto armado. Um histórico dessas estruturas que conectam o fluxo urbano e constituem parte bonita de nossa geografia afetiva (e também da de turistas como o cronista citado) está reunido na exposição Imagens do Recife – Pontes, aberta nesta quinta (17), para convidados, no Museu da Cidade do Recife (MCR), às 19h.
A mostra conta com 30 fotografias datadas da metade do século 19 até os anos 1980, reconstituindo o desenvolvimento da capital pernambucana através de registros de suas pontes. Resultado de minuciosa pesquisa do fotógrafo Josivan Rodrigues, o projeto, concluído em seis meses, faz parte de um extenso trabalho de catalogação no acervo do MCR. Na ocasião também será lançado o catálogo da exposição (hoje ao preço promocional de R$ 20, e R$ 30 nos demais dias), que reúne as 30 imagens da mostra em formato de cartão-postal.
A ação é a primeira da série Imagens do Recife, que apresenta a cidade a partir do rico acervo de imagens lotado no MCR – cerca de duzentas mil matrizes fotográficas, entre negativos de vidro, acetato e cópias em papel. “Havia o desejo de revelar imagens inéditas ou pouco conhecidas do Recife. O acervo do MCR é valioso em mostrar aspectos históricos da cidade e sua evolução urbana”, explicou Josivan.
De um vendedor de doces da metade do século 19, na pomposa Ponte Sete de Setembro, a meninos mergulhando no Açude de Apipucos, no anos 1980, a exposição traz um raio-X de um Recife com sede (e na iminência) de ser moderno.
O fótógrafo pernambucano já teve aprovado pelo Funcultura o segundo livro da série, focado na evolução urbana do Recife através de suas praças, ruas e avenidas.
No dia 21 de fevereiro, às 17h, o arquiteto e urbanista José Luiz Mota Menezes, especialista na evolução urbana da capital pernambucana, é convidado da mostra para realizar a palestra O Recife e suas pontes, seguida por bate papo com o idealizador do projeto, Josivan Rodrigues, Betânia Corrêa de Araújo, diretora do MCR, e Sandro Vasconcelos, responsável pelo setor iconográfico do museu.