Sob o sol e a poeira do sertão de Pernambuco, uma procissão de sertanejos a cavalo chega ao Sítio das Lages para participar de mais uma Missa do Vaqueiro, rezada por um padre de batina e chapéu de couro.
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Neste domingo (26), a cerimônia, realizada em Serrita (a 535 km do Recife), completa 45 anos. O evento cresceu e hoje atrai cerca de 70 mil pessoas (quase 1.500 vaqueiros) de vários Estados para os três dias de festival, com disputas de pega-de-boi, vaquejada e feira de artesanato.
A missa foi rezada pela primeira vez em 1971, em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, assassinado em 1954, supostamente pelo amigo Miguel Lopes, por inveja, após resgatar uma novilha sumida. Jacó era primo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, que em sua homenagem compôs "A Morte do Vaqueiro" e realizou a primeira missa, com o padre João Câncio. "Eles decidiram celebrar a missa em protesto contra as impunidades. Em terra de coronel, era comum o mais forte prevalecer", diz Helena Câncio, viúva do padre -ele largou a batina em 1980- e organizadora do evento.
Como oferendas, os vaqueiros deixam botas, chapéu, chicote e as outras 15 peças do traje. Para comungar, compartilham queijo, rapadura e farinha de mandioca.
Neste ano, o governo de Pernambuco, que patrocina a cerimônia, reduziu em 30% o orçamento (R$ 500 mil). A organização diz que a festa deixou de ser atração nacional, mas manteve toda a tradição.