Filho do cineasta Zelito Viana e da produtora de cinema Vera Maria Palmeira de Paula – que vem a ser irmã da diretora Betse de Paula e, portanto, sobrinho do humorista Chico Anysio – o ator Marcos Palmeira de Paula nasceu em 19 de agosto de 1963, no Rio de Janeiro. Hoje, aos 54 anos, o artista também gerencia desde 1997 uma fazenda em Teresópolis, área serrana do Rio, onde cultiva alimentos orgânicos. Foi por esse lado mais engajado de produtor rural e ambientalista que ele que esteve no Recife na última semana para participar de um evento sobre sustentabilidade no RioMar Shopping, no bairro do Pina, Zona Sul da cidade.
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Porém, o lado consciente de Marcos Palmeira não surgiu apenas em virtude de sua fazenda. O contato com os índios e a relação com seu avô, segundo ele, foram determinantes para formar seu conceito sobre o assunto desde muito cedo. “Tanto a minha convivência com os índios na minha adolescência e juventude, como a relação com o meu avô, que trazia questões muito pertinentes sobre as relações humanas, foram trazendo a facilidade de enxergar a natureza de forma diferente, e a ficha de lutar em prol dela caiu com uma certa velocidade”, contou o ator ao Jornal do Commercio após sua palestra no evento.
Em depoimento ao projeto Memória Globo, Marcos Palmeira conta que chegou a pensar em cursar a faculdade de Psicologia, mas tomou a decisão de ser ator após uma incursão pela tribo Arara, no Pará, em 1982, onde passou cerca de 30 dias, com o fotógrafo Luís Carlos Saldanha, para filmar um documentário. Os arara não falavam português, e ele tinha que se comunicar por gestos – tomando por aí o desejo de representar. Em seguida, abandonou o vestibular e entrou na escola de teatro da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Na viagem ao Pará, ele operava o equipamento de som. “Já fiz tudo no cinema, menos fotografia”, conta. Sua estreita relação com os índios não começou aí. Aos 16 anos, quando o pai rodava o filme Terra dos Índios (1979), conheceu quatro xavantes que se hospedaram em sua casa e virou cicerone do grupo. Cortou os cabelos como um curumim e passou dois meses na aldeia de seus hóspedes, no Mato Grosso, onde cumpriu o ritual de passagem da adolescência, sendo batizado com o nome de Tsiwari (Filho Valente).
Nas telinhas, atuou pela primeira vez em uma novela da Globo em 1986, fazendo uma pequena participação em Roda de Fogo (1986), de Lauro César Muniz. O primeiro papel, porém, foi em Mandala (1987), de Dias Gomes, na qual interpretou Creonte na primeira fase da trama. Em seguida, foi escalado para fazer o jornalista Mário Sérgio de Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, e, depois, o Solon, um dos filhos de Euclides da Cunha e Anna de Assis na minissérie Desejo (1990), de Gloria Perez.
Casado com Gabriela Gastal desde 2016 e pai de uma filha, Marcos Palmeira possui dezenas de trabalhos no cinema, TV e teatro, ganhando alguns prêmios em cada uma destas áreas. Recentemente, foi indicado ao prêmio Emmy Internacional de 2013 por sua atuação na série Mandrake, do canal fechado HBO.
Tamanho reconhecimento no que ele chama de “lado A” faz com que o ator use estas mesmas plataformas para militar sobre as causas ambientais, expondo ao público então o seu “lado B”.
“Acho que nunca consegui deixar o lado A de lado, não teve jeito. O lado A vai me acompanhar sempre. Mas as pessoas não tem acesso à essas informações. Então estou usando realmente da minha imagem, de alguma penetração que eu possa ter nas mídias para falar e levantar essa bandeira. Quando posso, levo para os meus personagens também e falo de cultura orgânica, comida orgânica. Eu acho que é preciso dar a cara a tapa. Não existe nenhuma grande empresa financiando a agroecologia. No entanto, o agronegócio tem milhões de grandes empresas que beneficiam disso. A agroecologia não, só ganha quem produz e quem consome. Então eu me coloco como uma ferramenta dessa fomentação em rede, de poder espalhar a informação. E fico feliz que até hoje eu tenha sido bem sucedido nessa luta. É um trabalho de formiguinha mesmo”, defende Palmeira.
FUTURO NO 'LADO A'
Enquanto ele mantém a luta constante no ‘lado B’, no ‘lado A’, Marcos Palmeira segue com vários projetos: “Eu acabei de filmar Boca de Ouro, uma peça de Nelson Rodrigues, dirigido por Daniel Filho. Também vou lançar esse ano um filme chamado A Divisão, gravado em 2017, sobre a Delegacia Anti-Sequestro, de Vicente Amorim”.
Seu lado ativista também está a frente da série Manual de Sobrevivência no Século XXI, mostrando coisas que estão sendo feitas no Brasil para melhorar a qualidade de vida da humanidade: “É bem interessante também. Sou o âncora e vivencio as experiências também in loco”, comenta o engajado ator.