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Desemprego atinge 18% dos jovens de até 24 anos

Crise econômica e falta de qualificação afetam ingresso no mercado de trabalho

Yasmin Freitas
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Yasmin Freitas
Publicado em 22/03/2016 às 12:44
Foto: Fotos públicas/Divulgação
Crise econômica e falta de qualificação afetam ingresso no mercado de trabalho - FOTO: Foto: Fotos públicas/Divulgação
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“Tenho 20 aninhos, sou técnico em Comunicação Visual, hábil com Adobe Photoshop, Adobe Illustrator e Adobe InDesign. Trabalhei por um ano como designer em uma agência de comunicação e faço desenhinho, cartão de visita e logomarca. Também ilustro, crio identidade visual com manual de marca, fotografo e manjo um pouco de diagramação editorial. Um verdadeiro pau para toda obra, né não?!” 

O desemprego levou o designer Igor Marques, 20, a usar todo seu bom-humor em sua página do Facebook para fazer este anúncio e tentar conseguir uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Igor não é o único que está correndo atrás.

De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase um a cada cinco jovens brasileiros (18,9%) entre 18 e 24 anos está desempregado. A taxa é a mais alta entre todas as faixas etárias pesquisadas e teve crescimento elevado em comparação com o mesmo período do ano passado. 

Apesar de, historicamente, a taxa de desocupação entre indivíduos de 18 e 24 anos ser sempre a maior dentre os grupos pesquisados, é interessante observar como os números vêm crescendo de forma muito intensa.

“Em janeiro de 2015, a taxa de desocupação entre os mais jovens era de 12,9%. Agora, é 6% maior. Já no grupo com 25 até 49 anos, saímos de 4,3% de desocupação para 6,5%.O crescimento foi de apenas 2,2%”, revela a técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy. Quando consideradas pessoas acima de 50 anos, o desemprego também fica em baixa, apenas 1% de elevação em um ano. 

Segundo Jorge Matos, presidente e fundador da Etalent, empresa de tecnologia especializada na gestão da mudança pessoal e na educação do comportamento, a crise econômica certamente é um fator relevante no crescimento do desemprego em todas as faixas etárias, e atinge mais os jovens pela falta de qualificação. 

“Com o momento econômico favovável vivido pelo Brasil até 2013, houve um aumento da demanda por serviços e bens de consumo, o que levou à expansão de vários negócios, ou seja, mais pessoas foram contratadas. Na crise, no entanto, vários destes mesmos profissionais estão sendo desligados por terem pouca qualificação e produtividade”, diz. 

Ainda na opinião do especialista, a expansão no número de unidades de ensino superior pouco qualificadas graduam um elevado jovens sem a preparação adequada para o mercado de trabalho, principalmente quando o assunto é análise e interpretação crítica da realidade e capacidade de contribuir criativamente e de forma inavodora para a empresa.

“Isso se reflete em uma grande oferta de mão de obra, mas com pouca qualidade, baixo nível de leitura, informação e vontade de melhorar”, opina. Por outro lado, há um contingente de pessoas que retardam a entrada no mercado de trabalho para se qualificar. Geralmente são jovens pertencentes a família de renda mais elevada. 

Mas até quem está qualificado tem dificuldade para encontrar um emprego. Administradora formada no ano passado, Cecília Reis, 23, estudou em uma instituição de ensino conceituada, estagiou por dois anos no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Grupo Baterias Moura por mais onze meses. Também passou uma temporada na Alemanha, onde procurou estudar uma segunda língua e se especializar.

“Me cadastrei em um site com oportunidades de empregos, e até agora só fui chamada para uma entrevista. Cheguei até à fase de dinâmicas de grupo, mas não fui selecionada”, comenta a administradora. “A área administrativa abrange muitas oportunidades em setores distintos, mas mesmo assim, ainda não consegui um emprego. Aproveitei para começar a estudar para concursos, porque o mercado está bem complicado”, completa Cecília.

Empresas precisam inovar mais - Além da crise econômica e da falta de qualificação da juventude brasileira, para o presidente da Etalent, Jorge Matos, também falta capacidade de inovação dentro das empresas para acompanhar tendências e gerar novos postos de trabalho já que, muitas vezes, a companhias parecem mais preocupadas em cortar custos eliminando profissionais menos produtivos do que otimizando sua força de trabalho.

Para ele, outro problema é o Brasil ser um país muito delicado para quem pretende empreender tanto do ponto de vista burocrático quanto financeiro.

“Muitos negócios têm sido criados sem as estratégias necessárias. As pessoas desenvolvem serviços e produtos, mas não se importam com inovação, gestão de processos, produtividade e melhorias, tampouco criam um mercado para comercializar seus produtos. Assim, não criam novas funções, novos postos de trabalho para absorver os jovens que estão se formando agora, e também não conseguem aumentar o sucesso de seus empreendimentos”, aponta Matos. 

A afirmação é sustentada pela pesquisa mundial Global Entrepreneursip Monitor (GEM), no Brasil desenvolvida pelo Sebrae. De acordo com os dados de 2015, o número de empreendedores por necessidade é o maior desde 2007, totalizando 44% das pessoas à frente das empresas. No ano anterior, apenas 29% dos empresários estavam no comando de um negócio próprio por necessidade.

Matos defende que faltam, ainda, incentivos ao empreendedorismo por parte do poder público, tanto em questões de educação para empreender, quanto no quesito do fomento aos novos empresários. “Se você parar para pensar, por exemplo, no quanto é difícil obter uma patente, ficará surpreso. Além do custo altíssimo, é necessário vários anos até o processo estar completo”, opina.

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