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EUA: dólar forte contraria uma economia em crescimento

Valorização ganhou força no final de fevereiro e culminou com sua primeira paridade entre as duas divisas (Dólar e Euro) desde 2002

Da AFP
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Da AFP
Publicado em 19/03/2015 às 17:47
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Valorização ganhou força no final de fevereiro e culminou com sua primeira paridade entre as duas divisas (Dólar e Euro) desde 2002 - FOTO: Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Da indústria às matérias-primas, a economia americana se preocupa desde o fim de 2014 com o fortalecimento do dólar, agora quase em paridade com o euro. Antes, os Estados Unidos se orgulhavam das sólidas bases que contribuíram para a alta da moeda.

"Alguns industriais começaram a me falar disso no fim de novembro", lembra Chad Moutray, chefe de economistas da Associação nacional de industriais (NAM) dos EUA. 

A valorização do dólar também se beneficiou da queda do euro, ganhou força no final de fevereiro e culminou com sua primeira paridade entre as duas divisas desde 2002, é certamente um sintoma da consolidação da economia americana, cujos dados de crescimento e emprego contrastam com os da zona do euro.

"É fato de que um dólar forte vários setores da economia", afirmou Nariman Behravesh, chefe de economistas do escritório IHS. 

"Afeta as indústrias exportadoras porque as torna menos competitivas e porque afeta as empresas que ganham muito dinheiro fora dos Estados Unidos, porque elas perdem com a cotação da divisa quando repatriam seus lucros", explicou.  

Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), reconheceu na quarta-feira que o dólar valorizado será um "peso" para a economia.

"Em janeiro, com a temporada de resultados trimestrais das empresas, os temores se estenderam", apontou Moutray, da NAM.

Um caso típico, o grupo americano Procter & Gamble, que vende produtos reconhecidos mundialmente como as lâminas de barbear Gillette e as fraldas Pampers, publicou um volume de negócios em queda por causa da conversão para dólar de seus resultados no exterior. Desde então, a ação do grupo caiu cerca de 10% na Bolsa de Valores.

O fenômeno dominou esta temporada de resultados e afetou grupos tão diferentes como o do setor químico DuPont, o de informática Microsoft e o Caterpillar, especializado em máquinas de construção. Para muitos deles, o motivo de preocupação não é tanto os resultados mas as perspectivas para 2015.

 

Dos suínos ao petróleo

Além das grandes empresas cotadas na Bolsa, a inquietude se espalha pelos setores que dependem de suas exportações, como a agricultura.

Assim como para a indústria, "foi nos últimos quatro meses que surgiram as preocupações", destaca Richard Pottorff, chefe de economistas do Doane, escritório  especializado no setor.

"Ao se fortalecer, o dólar encarece nossas exportações e isso afeta particularmente o trigo e o algodão, já que quase a metade dessas colheitas são vendidas no exterior", afirmou Pottorff.

Os pecuaristas americanos também estão expostos, em primeiro lugar os criadores de porcos, na medida em que exportam um quarto da produção. Os compradores podem se dirigir a outros três grandes produtores, a União Europeia, o Canadá e o Brasil, países cujas divisas caíram em relação ao dólar. O real tem sido a moeda mais prejudicada. 

Outro tipo de matéria-prima, o petróleo, cotado em dólares, em um contexto de dificuldade para os produtores americanos de petróleo de xisto, que enfrentam uma guerra de preços mais ou menos velada com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), dominada pela Arábia Saudita.

"Todas as vendas de petróleo são feitas na moeda americana, mas se o dólar se fortalece, fica mais caro comprar um barril de cru, e o investimento se torna menos atraente em um mercado que se encontra sob a pressão de uma oferta excessiva", analisa Jeff Mower, diretor da Platts, especialista em preços de energia.

Embora o fortalecimento do dólar possa ser visto como algo desfavorável para setores inteiros da economia americana, se mantém a calma nos EUA. As exportações representam somente um pouco mais de 10% do PIB, enquanto na Alemanha, por exemplo, a proporção é de 50%.

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