O dólar fechou cotado abaixo de R$ 3 nesta quinta-feira (23) pela primeira vez desde 4 de março deste ano. A moeda reagiu a dados fracos de atividade industrial e emprego nos Estados Unidos, que podem fazer com que o banco central americano adie o aumento da taxa de juros no país para o segundo semestre.
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Com o adiamento, os investidores optam por manter o dinheiro aplicado em mercados emergentes, como o Brasil, buscando lucrar com a diferença de taxa de juros adotada nesses países em relação à paga pelos títulos americanos. Isso favorece a entrada de dólares nos emergentes, pressionando em baixa a moeda americana.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em baixa de 0,82%, para R$ 2,979. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, teve desvalorização de 0,89%, para R$ 2,981.
Das 24 principais moedas emergentes, 17 se valorizaram ante o dólar.
Nos Estados Unidos, a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), divulgada nesta quinta-feira, mostrou que a atividade industrial no país se desacelerou mais que o esperado em abril, no ritmo mais lento desde janeiro.
O PMI preliminar compilado pelo Markit para indústria dos EUA caiu para 54,2 em abril ante leitura final de 55,7 em março. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor.
O número de americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego subiu na semana passada pela terceira semana seguida. Para analistas, porém, a tendência continua a apontar para uma sólida melhora no mercado de trabalho.
Os pedidos iniciais subiram em 1.000, para 295 mil, segundo números ajustados sazonalmente, na semana encerrada em 18 de abril, informou o Departamento do Trabalho nesta quinta-feira. O número de pedidos da semana anterior não sofreu revisões.
Ainda nos EUA, as vendas de novas moradias para uma única família registraram em março a maior queda em mais de um ano e meio, interrompendo três meses seguidos de ganhos fortes, num revés temporário para o mercado imobiliário.
"Manter o dólar desvalorizado interessa aos Estados Unidos neste momento de recuperação econômica. Se o dólar se valorizar, pode prejudicar as exportações americanas e impactar a atividade econômica nos EUA", avalia Sidnei Nehme, economista e presidente da NGO Corretora.
Para ele, porém, a desvalorização da moeda ocorreu além do patamar considerado ideal pelo governo. "Nós não temos condições de termos uma taxa de câmbio abaixo de R$ 3, é um preço que não interessa ao governo, que está usando o dólar como fator para reabilitar a atividade econômica brasileira", afirma.
Para corrigir essa queda acentuada, completa, o Banco Central precisaria reduzir a oferta de contratos de swaps (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) no mercado cambial. Hoje, o BC faz a rolagem integral dos contratos. Para forçar a moeda para cima, poderia, a partir de maio, optar por uma rolagem parcial.
"Não é compatível ter um real se apreciando com um deficit em conta corrente de US$ 101 bilhões. O próprio governo projeta, até o final do ano, um deficit de US$ 84 bilhões. Para isso, precisamos de um dólar mais forte para atrair capital", afirma.