O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, se reunirá na quinta-feira (20) em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, em um contexto de fortes dificuldades comerciais no Mercosul, que procura avançar para um modelo de maior flexibilidade e autonomia para os seus membros.
Leia Também
Brasil, Uruguai e Paraguai, que juntamente com a Argentina e a recém-chegada Venezuela integram o Mercado Comum do Sul, concordaram em buscar uma fórmula para acabar com uma das principais limitações expostas pelo bloco: a incapacidade de buscar acordos comerciais sem o consentimento dos outros parceiros.
Vázquez, que observa com preocupação a deterioração do comércio dentro do Mercosul e seus efeitos sobre a economia uruguaia, e Dilma Rousseff, cujo governo atravessa uma forte crise política pelos escândalos de corrupção na petrolífera estatal Petrobras e uma situação econômica pouco promissora, também tentarão avançar em um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE).
O pacto, paralisado há mais de 10 anos, é visto por ambos os governos como uma primeira alternativa de abertura comercial para o bloco fundado em 1991.
"A política comercial precisa ser mais pragmática. (...) O Brasil precisa integrar as correntes comerciais" mundiais, "especialmente em regiões que são mais dinâmicas hoje que o Mercosul", declarou na segunda-feira à AFP o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro.
Por sua vez, o Uruguai tem realizado "consultas com todos os países membros do Mercosul, e mesmo com alguma dificuldade, há um consenso, um acordo para trabalhar em uma proposta" que permita buscar acordos comerciais fora do bloco, explicou na semana passada o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa.
Trata-se de uma mudança fundamental para o Mercosul, defendida pelo Uruguai e Paraguai, mas que encontra resistência de Brasília e as dificuldades econômicas atravessadas pela Argentina.
Mas os números mandam.
A economia e a UE
O Brasil está passando por uma situação econômica difícil. Em abril, o FMI cortou sua previsão de crescimento para a maior economia da América Latina para 2015 e previu uma contração do PIB de 1%.
Além disso, de janeiro a abril, o país acumulou um déficit comercial de mais de 5 bilhões de dólares.
Fontes familiarizadas com as negociações no âmbito do Mercosul disseram à AFP que a pressão dos grupos empresariais que foram afetados pela perda das preferências tarifárias com a UE se fazem sentir cada vez mais fortemente em Brasília.
"Há uma prioridade que é dada pelos números. Há uma quantidade de exportações que o Brasil não pode entrar com preferência" na UE, e, portanto, a insistência de Brasília em empurrar este acordo, disseram.
A Argentina não apresentou qualquer oferta pensando em um acordo com a UE.
Enquanto isso, no caso do Uruguai, Vázquez, que no início de seu primeiro mandato (2005-2010) sequer esboçou a possibilidade de um TLC com os Estados Unidos que foi rejeitado por seu partido, observou uma queda contínua das exportações à qual procura um remédio.
As vendas do Uruguai para o exterior caiu pelo quinto mês consecutivo em abril (9,87% em dólares) em comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com a União de Exportadores, acumulando uma queda de 4,41% no primeiro trimestre.
Pior ainda, de acordo com o Instituto Uruguay XXI (público-privado), as vendas uruguaias ao Mercosul caíram 6,8% este ano.
Assim, com um Mercosul estagnado, o presidente uruguaio está apostando que a mudança de tessitura em Brasília quebre o espartilho que o grupo se auto-impôs.
A chave, repete o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, é aumentar a flexibilidade entre os parceiros e negociar cada um em seu próprio ritmo.
"Devemos fazer um movimento que permita que os países tenham diferentes velocidades" de negociação, concluiu o ministro brasileiro Monteiro em entrevista à AFP.
Fontes a par das conversas entre os parceiros indicaram à AFP que há acordo entre as partes para que essa alteração seja feita sem alterar as regras internas do Mercosul.
O Brasil acaba de assinar acordos de investimento e cooperação esta semana com a China a um montante potencial de mais de 50.000 bilhões.