O Fundo Monetário Internacional (FMI) arrefeceu as esperanças, nesta quinta-feira, de um rápido acordo entre a Grécia e seus credores, reunidos em Bruxelas nas últimas horas. "Ainda há diferenças grandes entre nós em setores essenciais, e não houve avanços para satisfazer isto. Ainda estamos longe de um acordo", afirmou o porta-voz do FMI, Gerry Rice, em entrevista coletiva em Washington. Segundo Rice, as principais diferenças são em relação à reforma do sistema grego de aposentadorias, impostos e ao financiamento dos gastos públicos.
Leia Também
"A bola está agora do lado dos gregos", disse Gerry Rice, acrescentando que a Grécia está preparando novas propostas de reforma para obter o desembolso de 7,2 bilhões de euros. A quantia é necessária para evitar o "default" grego. Mantendo-se discreto sobre o caso de Atenas até o momento, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu nesta quinta-feira às autoridades do país mediterrâneo que se mostrem "um pouco mais realistas". "Não é mais hora de jogar", frisou, acrescentando que "precisamos de decisões, e não de mais negociações".
Caso se chegue a um acordo, deverá ser aprovado, em princípio, no mais tardar na reunião dos ministros das Finanças da zona do euro, na próxima quinta, 18 de junho, em Luxemburgo. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, participará da reunião.
As declarações do FMI foram dadas no momento em que os negociadores gregos e os dos credores (União Europeia e FMI) tentam abrir caminho para um acordo.
Hoje, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, reuniu-se com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que atua como facilitador nessas difíceis negociações.
O encontro durou cerca de duas horas e aconteceu depois da reunião de Tsipras, ontem, com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande. Ao final, Tsipras se comprometeu a "intensificar" as discussões com seus credores e, nesta quinta, repetiu as mesmas palavras.
Embora nenhum avanço tenha sido registrado, essas discussões influenciaram positivamente o mercado. A Bolsa de Atenas disparou 8% no fechamento, e as demais praças europeias, mais prudentes, encerraram com leves altas.
Novas concessões
"Trabalhamos para atender as divergências que subsistem, em particular do ponto de vista fiscal e financeiro, e para alcançar um acordo que garanta uma recuperação da Grécia com coesão social e uma dívida pública sustentável", disse Tsipras após a conversa com Juncker. Atenas parece estar disposta a fazer concessões.
"Haverá um leve aumento dos impostos que não vai afetar as rendas mais baixas", anunciou o ministro grego da Economia, Georges Stathakis.
Questionado sobre um eventual aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) - um dos pontos de bloqueio das negociações até agora -, o ministro adjunto grego para a Reforma do Estado, Giorgos Katrougalos não a excluiu.
"Infelizmente, no momento, é preciso aumentar a receita pública. O sistema de tributação não é justo (...) trata-se apenas de medidas provisórias que buscam favorecer a reativação econômica", justificou.
Em relação ao excedente primário, que os credores da Grécia querem fixar em 1% em 2015, está-se trabalhando no acordo. Esse número condiciona o montante do ajuste que o país deve fazer.
Sobre esse tema, "não resta muito a fazer para se chegar a uma solução", comentou, na quarta-feira, uma fonte consultada pela AFP com acesso às discussões.
No início da semana, Atenas propôs um saldo de 0,75%. O governo grego se declarou disposto a rever sua posição sem chegar a 1% - lembrou hoje o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis. A perspectiva de novas medidas de rigor na Grécia irritou os funcionários gregos e do PAME - a coalizão de sindicatos ligados ao partido comunista KKE -, que convocaram manifestações.