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O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou nesta terça-feira (19) em baixa sua previsão para o crescimento da economia mundial em 2016, a 3,4%, com um alerta sobre riscos substanciais que afetam especialmente as economias emergentes, como a do Brasil.
Este prognóstico representa um avanço em relação aos 3,1% de 2015, mas está 0,2 ponto percentual abaixo da previsão de outubro do ano passado.
A economia mundial alcançaria um crescimento de 3,6% em 2017, indica o FMI na atualização das perspectivas mundiais.
"Projeta-se que a recuperação da atividade mundial seja mais gradual" que o previsto em outubro passado, "especialmente no caso das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento", disse a entidade financeira.
Para os técnicos do FMI, a desaceleração da economia chinesa, a queda dos preços das matérias primas e as tensões nas quais se encontram submetidas algumas das principais economias de mercados emergentes "continuarão pesando sobre as perspectivas de crescimento em 2016-2017".
"Enfrentamos sobressaltos este ano, particularmente no mundo emergente e em desenvolvimento", disse o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, em uma coletiva de imprensa em Londres.
Evitar o descarrilamento
Os riscos para as perspectivas mundiais "continuam se inclinando à baixa" e estão relacionados com "os ajustes que estão ocorrendo na economia mundial", indicou o Fundo.
Entre estes ajustes, o FMI mencionou a queda progressiva das condições monetárias extraordinariamente acomodatícias nos Estados Unidos.
De acordo com o FMI, se estes temas "não forem administrados adequadamente, o crescimento mundial pode descarrilar".
No entanto, o Fundo manteve intocada a previsão de crescimento para a China, de 6,3%, com redução sensível em relação aos 6,9% registrados em 2015, o menor nível em um quarto de século.
A instituição, no entanto, prevê para os Estados Unidos um crescimento de 2,1%, 0,2 ponto percentual abaixo da expectativa de outubro, principalmente devido ao impacto que o fortalecimento do dólar tem sobre as exportações.
O continente europeu é o único bloco que teve uma revisão em alta, de 0,1 ponto percentual, graças ao desempenho das economias de Alemanha e Espanha: em 2016 a região deve crescer 1,7%, sendo que em outubro passado a previsão do FMI era de um avanço de 1,6%.
No caso da Espanha, o país crescerá 2,7% em 2016 e 2,3% em 2017, segundo as previsões revisadas em alta.
Na América Latina, enquanto isso, o Brasil arrasta para baixo praticamente toda a região: o FMI prevê para este ano uma queda de 3,5% no país, quando em outubro estimava um retrocesso de 1%, o que representa um reajuste de -2,5 pontos percentuais, a revisão mais expressiva de todo o estudo.
A corrupção e os problemas políticos no Brasil, estimou Obstfeld, "minaram a confiança, o que também foi causado pela deterioração contínua das perspectivas orçamentárias, que está abalando a confiança e provocando uma maior depreciação (do real) e uma maior inflação".
Com uma previsão de crescimento para o México de 2,9%, contra os 3,1% previstos em outubro, o FMI projeta que a região da América Latina e do Caribe deverá experimentar em 2016 uma queda de 0,3%, uma forte revisão de -1,1 ponto percentual.
Atenção especial à China
Em seu novo estudo, o FMI se concentrou nos riscos que podem levar ao surgimento de crises localizadas, mas com consequências generalizadas.
A transição da China, a segunda maior economia do mundo, constitui, assim, a preocupação fundamental.
A súbita redução das importações e das exportações chinesas coloca ainda mais pressão sobre um mercado mundial de commmodities já deprimido, e com isso afeta diretamente os exportadores de muitos países, em especial Austrália e Brasil, produtores com perfil exportador.
Como efeito secundário, disse o FMI, esta tendência aumenta a instabilidade na confiança dos mercados em todo o mundo e acrescenta volatilidade suficiente para frear os investimentos de longo prazo.
Para o FMI, um cenário de intensificação da desaceleração chinesa pode conduzir a um enfraquecimento de sua moeda, arrastando, com isso, divisas de outros países.
Obstfeld pediu às autoridades chinesas que "se comuniquem melhor com os mercados" sobre seus planos para sua moeda, com o objetivo de reduzir a volatilidade, embora tenha questionado as reações dos mercados às notícias que chegam da China.
Os mercados "estão reagindo muito raivosamente a pequenas evidências", disse Obstelfd, "as reações são muito extremas".
A tudo o que foi mencionado, é preciso somar o programa de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que fortalece o dólar e eleva os custos de mercados emergentes e países pobres para conseguir créditos.