Inovação

SXSW: Um futuro sem smartphone e com maior expectativa de vida

Festival SXSW, em Austin, foi palco para cenaristas e gurus do mundo digital fazerem suas previsões de como será a vida em alguns anos

Maria Luiza Borges
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Maria Luiza Borges
Publicado em 17/03/2018 às 14:39
Foto: Amy E. Price/WireImages
Festival SXSW, em Austin, foi palco para cenaristas e gurus do mundo digital fazerem suas previsões de como será a vida em alguns anos - FOTO: Foto: Amy E. Price/WireImages
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AUSTIN (EUA) – O declínio do uso de smartphones, a popularização das tecnologias vestíveis, carros que andam sozinhos, táxis que voam, biotecnologia que vai aumentar nossa expectativa de vida, a ampliação da inteligência humana até uma eventual fusão com inteligência artificial, a descentralização das transações de todos tipos (do mercado financeiro aos contratos e registros médicos) são alguns aspectos do futuro imediato ou de médio prazo trazidos para o festival South By Southwest (SXSW), que reúne pessoas do mundo inteiro para falar de inovação, música e cinema. O festival, encerrado na sexta, é um desfile de gurus do mundo digital, investidores bilionários, analistas, celebridades, cientistas de todas as áreas do conhecimento e uma multidão de startups, nerds e geeks

Uma das palestras mais concorridas foi da futurista Amy Webb, do Instituto Future Today. Tomando por base números recentes que mostram a estagnação na venda de smartphones e o surgimento dos primeiros usos comerciais de tecnologias vestíveis (como a jaqueta do vídeo abaixo), Webb foi taxativa: 2018 marca o declínio do uso do celular. Segundo ela, cada vez mais vamos interagir por dispositivos conectados (como roupas, óculos, relógios...), e a maior parte dessa interação será pela voz ou até por expressões faciais,

 

Webb diz que, a princípio, os dispositivos se conectarão a smartphones. Mas, aos poucos, esse processamento deve passar para a nuvem, integrando todos os dispositivos de uma pessoa. Isso levaria ao fim dos smartphones até 2028. Para ilustrar o que estava dizendo, Webb mostrou fotos de dispositivos que pareciam eternos e hoje são peças de museu, como o walkman, a Polaroid e o DVD.

A especialista lembra que a voz de cada indivíduo é única e fornece muito mais informações do que o que está sendo dito. “A voz indica estado emocional, doenças, condições e até o lugar onde a pessoa está”. A futurista destacou a melhor parte do fim da era do celular: “Vamos parar de digitar loucamente, vamos voltar à posição ereta e a olhar as pessoas nos olhos”.

Se Webb falou da migração da interação dos dedos para a voz, teve quem fosse mais longe. O diretor de Engenharia do Google, um dos gurus digitais famosos por acertar previsões, Ray Kurzweil, diz que, depois de migrar para a voz, nossa interação migrará para o nível cerebral, com dispositivos implantados. É dele a previsão de que até 2045 nossa inteligência poderá ser integrada, melhorada e ampliada com mecanismos artificiais. “Será uma singularidade” (evento histórico futuro em que a humanidade chegará a um estágio de colossal avanço tecnológico em curto espaço de tempo).

BIOLOGIA

Outra grande tendência que está na porta é de um incremento considerável na expectativa de vida por conta de tecnologias como a edição de genes defeituosos, o monitoramento da condição de saúde pela pele, entre outros. Há ainda as drogas personalizadas, que agem diretamente na área doente. Isso deve melhorar o resultado dos tratamentos e diminuir os efeitos colaterais. “Já há tecnologia que grava nossas informações à medida que envelhecemos. E se pudermos fazer cópias de versões anteriores de nós mesmos?”, questiona Webb.

Uma das pesquisas ganhadoras do prêmio da SXSW corrobora ainda mais esse cenário. A caneta MasSpec, desenvolvida na Universidade do Texas, descobre se uma célula é cancerígena em 10 segundos e com precisão de 96%. Quem é da área médica pode imaginar o quanto isso reduzirá o tempo das cirurgias de câncer e aumentará a chance de remoção total de tumores. Agora imaginem meia hora a menos de cirurgia em todos os pacientes internados ao longo de um ano e os efeitos que isso teria no sistema de saúde.

Outro exemplo prático veio do empresário PHD em biologia celular e molecular Ned David. Sua empresa Unity Technology tem centenas de engenheiros trabalhando na possibilidade de parar o acúmulo nas células de uma enzima chamada beta-galactose, um dos processos responsáveis pelo envelhecimento. Para travar esse “ataque zumbi” às células, ele já captou mais de US$ 1,5 bilhão de investidores do porte de Jeff Bezos (Amazon) e Peter Thiel (PayPal).

NOVO PETRÓLEO

Quando o assunto são os dados, as previsões e cenários chegam a ser assombrosos. Em 2038, os dados (conjunto das informações que nós geramos a cada ação que executamos no mundo digital) serão o novo petróleo. E os que tiverem acesso a esses dados e souberem trabalhá-los serão os novos magnatas. É nesse mundo do big data que surgem duas áreas tão promissoras quanto assustadoras: a inteligência artificial e o aprendizado de máquina (IA e ML, nas siglas em inglês). Algo que assusta até o bilionário Elon Musk (Tesla, SpaceX): “IA é mais perigosa que explosão nuclear”, vaticinou na sessão de perguntas que respondeu para um teatro lotado por 2.600 pessoas.

Flash do que estamos falando está no experimento que ganhou o prêmio de melhor entre os melhores na SXSW. A Swarm AI coleta informações e opiniões de várias pessoas de um determinado segmento e as associa na lógica de organização de uma colmeia, adaptando o resultado a eventos e circunstâncias. Tudo isso em tempo real. Um teste do sistema foi feito nas predições de quem ganharia o Oscar, usando a opinião de 40 fãs de cinema. Deu 94% de acerto. Outro teste foi feito na análise de 100 dias do governo Trump, que a Swarm AI acertou antes dos 100 dias.

APERTEM OS CINTOS

Nos transportes, a era dos carros sem motorista já chegou. A Waymo, subsidiária da Alphabet, controladora do Google, mostrou os veículos que já estão circulando nas ruas de Phoenix, no Arizona. O experimento que começou como uma brincadeira nas ruas internas do Google, onde circulava o carrinho em forma de bolha, está prestes tomar conta das grandes cidades. E é incrível ver os usuários do carro absolutamente confortáveis dentro de um veículo que não tem motorista, como mostra o vídeo abaixo.

 

Uber e Embraer seguem na parceria que pretende criar Uber voadores nas grande metrópoles. Em vez de se investir em mais rodovias, é mais barato levar as pessoas pelo céu para escapar dos engarrafamentos. De tão promissora a área, hoje há nada menos que 23 empresas (inclusive uma da Google) desenvolvendo protótipos de veículos aéreos elétricos (e silenciosos) para o mesmo propósito. Alguns já nascem não tripulados de origem. Apertem os cintos, o piloto sumiu da vida real. Tudo previsto para estar operando em meados da próxima década de 20. Logo ali.

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