Os riscos de um clima catastrófico e de inundações causadas pelas mudanças climáticas estão no topo da lista de preocupações dos líderes empresariais que participarão da reunião do Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos, na próxima semana.
Um relatório anual do FEM - baseado em uma pesquisa com cerca de 1.000 entrevistados da comunidade de Davos, composta por chefes de empresas, políticos, sociedade civil e acadêmicos - apontou a mudança climática como a preocupação dominante pelo terceiro ano consecutivo.
Leia Também
"O mundo está andando sonâmbulo em direção à catástrofe", disse Alison Martin, diretora de risco no Zurich Insurance Group, no lançamento do relatório de 114 páginas em Londres na quarta-feira.
O roubo de dados e os ataques cibernéticos aparecem juntos à mudança climática no topo das preocupações, mas os entrevistados também destacaram a ansiedade sobre o agravamento das relações internacionais e os riscos associados para a economia mundial.
Quase 90% das pessoas entrevistadas na pesquisa, realizada em setembro e outubro, esperam que as regras e acordos comerciais internacionais enfraqueçam ainda mais, à medida que a agenda "America First" (Estados Unidos primeiro) do presidente Donald Trump enfraquecer o corpo político do comércio global.
"Os músculos não estão exatamente onde gostaríamos que estivessem se enfrentassem uma nova recessão", disse o presidente do FEM, Borge Brende, citando as tensões comerciais e os altos déficits orçamentários em muitas economias.
O crescente risco de a Grã-Bretanha sair da União Europeia sem um acordo do Brexit no final de março também está preocupando as instituições globais e vai figurar nas reuniões da próxima semana nos Alpes Suíços, com autoridades britânicas e da UE presentes.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, enfrentou um voto de desconfiança na quarta-feira depois que seu plano para o Brexit foi amplamente rejeitado pela Câmara dos Comuns.
Empregos e investimentos de longo prazo na Grã-Bretanha estão em risco até que alguma saída seja encontrada para o impasse, disse John Drzik, presidente de risco global e digital da Marsh, empresa de serviços profissionais dos Estados Unidos.
"Uma vez que o Brexit for resolvido, mesmo se resolvido de forma adversa, pelo menos nós removemos alguma incerteza e isso pode esclarecer a capacidade de investir em algumas coisas. A incerteza está matando isso atualmente", disse à AFP no lançamento do relatório do FEM.
Incapacidade de agir
O relatório também discutiu os riscos apresentados pelos rápidos avanços tecnológicos em inteligência artificial e criptografia quântica, junto com o problema crescente do isolamento digital entre indivíduos estressados.
No total, 90% dos entrevistados esperam "maior confronto econômico entre as principais potências em 2019", embora a pesquisa tenha sido realizada antes de Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, concordarem em tentar negociar um pacto de paz em sua guerra de tarifas, no mês passado.
Trump também se retirou do Acordo de Paris sobre a mudança climática. Enquanto outros países concordaram em negociações da ONU no mês passado sobre um plano de ação comum, os Estados mais vulneráveis, junto com ambientalistas, advertiram que o pacto não tinha a ambição necessária para restringir as emissões de carbono.
O relatório do FEM mostrou um alarme crescente sobre os riscos do clima extremo e uma incapacidade de adotar medidas atenuantes à medida que as temperaturas aumentam, detalhando a possibilidade de muitas cidades baixas na Ásia, Europa e América do Norte serem varridas do mapa por inundações.
A China tem mais de 78 milhões de habitantes nas cidades sob risco de inundação, um número que aumenta 3% ao ano, segundo o relatório, citando pesquisas do Banco Mundial.
Martin, do Zurich Insurance Group, disse que o ano de 2018 já foi marcado por incêndios históricos, enchentes e aumento de emissões de gases do efeito estufa.
"Não é surpresa que, em 2019, os riscos ambientais dominem mais uma vez a lista das principais preocupações. O mesmo acontece com a crescente probabilidade de fracasso na política ambiental ou a falta de implementação oportuna das políticas", alertou.
Para os ambientalistas, esse fracasso político se tornou mais provável com a eleição do presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, que deve comparecer ao encontro anual do FEM.
Como Trump, Bolsonaro é um cético do clima. Mas os dois líderes populistas não vão se encontrar na Suíça, depois que o presidente dos EUA cancelou sua viagem devido à crise orçamentária em Washington.
O encontro de Davos é a primeira reunião internacional de 2019 e deve ser dominada pela emergência climática, disse a diretora executiva do Greenpeace Internacional, Jennifer Morgan, em resposta ao relatório do FEM.
"Em vez disso, a agenda trata apenas da mudança climática como uma questão entre muitas. A 'elite' de Davos ainda está fingindo que temos tempo para consertar a crise climática. Não temos", acrescentou