O Palácio do Planalto avalia que estão dados todos os elementos para que o Banco Central acelere o corte da taxa básica de juros a Selic, em sua reunião nesta quarta-feira (7). Mais: o Comitê de Política Monetária (Copom) precisa aproveitar uma oportunidade única no primeiro semestre deste ano para reduzir o custo do dinheiro no País e, ao mesmo tempo, ajudar na tarefa de conter o “tsunami” de moeda estrangeira que entrará no mercado local em busca de investimentos com altas taxas de retorno.
Como em agosto do ano passado, quando Dilma afiançou ao presidente do BC, Alexandre Tombini, que o governo faria o esforço fiscal necessário para permitir o corte dos juros, não há um “acordo” ou “compromisso” entre o Planalto e a equipe econômica de que os juros serão cortados a uma velocidade maior. O que há é um arranjo mais sutil.
Dilma conversa frequentemente com Tombini e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a conjuntura econômica e, nos últimos 45 dias, cresceu entre eles a percepção de que não faltam motivos para cortar a Selic mais rapidamente. Ou seja: a presidente não pede um corte maior ou menor, mas discute com Tombini o que possibilitaria uma aceleração nos cortes de juros. É justamente sobre este cenário que Dilma e Tombini concordam.
Com isso em mente, Dilma vem dando pistas e “construindo um discurso”, segundo fontes ouvidas pela reportagem. As reclamações sobre o “tsunami monetário” servem para dizer que os juros altos atraem muito capital estrangeiro, que fortalece o real e prejudica as exportações da indústria.
Vem daí, também, a bronca no assessor especial Marco Aurélio Garcia, que chegou a dizer que seria promovido um corte “moderado” nos juros. A declaração causou ruído no mercado. Analistas que já apostavam numa aceleração do ritmo de queda da Selic, mudaram de posição, por enxergarem na fala de Garcia um sinal de que esse ritmo não seria alterado. Dilma desautorizou o auxiliar para corrigir o curso.
Desde agosto, o BC de Tombini já promoveu quatro cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic, o que jogou a taxa básica para 10,50% ao ano.
Agora, os cortes podem passar para 0,75 ponto ou até mesmo 1 ponto porcentual. Caberá ao Copom fazer o ajuste, olhando para frente.
Segundo auxiliares da presidente, o comportamento do PIB no ano passado é um dos elementos que justifica uma redução mais forte do juros agora. Essa avaliação também é compartilhada no BC e na Fazenda.
Em segundo lugar, a inflação corrente está em queda, com deflação nos preços de atacado. A arrecadação de impostos, que turbinou o resultado fiscal, é outro elemento que compõe este cenário.
Por último, pesou muito na avaliação de Dilma, Tombini e Mantega a projeção de menor crescimento da China neste ano, o que deve arrastar para baixo os preços de produtos básicos, as chamadas commodities. Na economia brasileira, inflação e preços de commodities sempre andaram juntos, logo é de se esperar um bom refresco no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos próximos meses.