Quando a marca de drogaria paraense Big Ben chegou ao Recife em 2009, o mercado de farmácias já experimentava há uma década um forte período de crescimento. De lá pra cá, o segmento cresceu ainda mais e atraiu o interesse do banco de investimentos BTG Pactual, que adquiriu o grupo cujas as lojas usam nas fachadas réplicas do famoso relógio britânico. Neste pouco tempo, a instituição conseguiu formatar o terceiro maior grupo do segmento de farmácias no Brasil, através da companhia Brazil Pharma, seguindo uma política agressiva de aquisições. A companhia tem farmácias de marcas regionais em todas as regiões do Brasil. Outra rede que consegue o feito é a cearense Pague Menos – segunda maior cadeia de farmácias do País, atrás apenas da Raia Drogasil, cuja força maior está no Sudeste.
Dentre outras marcas, a BR Pharma comprou o grupo pernambucano Guararapes, com cerca de 70 farmácias e, no ano passado, finalizou a compra da Big Ben, na ocasião com 11 lojas no Recife. Menos de um ano depois, as farmácias do relógio parecem estar em toda esquina. O crescimento rápido revela a aposta da companhia pela marca Big Ben em detrimento da Guararapes, mas escancara para o consumidor que o setor de farmácias já não é mais o mesmo. Virou briga de cachorro grande, num fenômeno que já marcou o segmento de supermercados há mais de uma década.
"A tendência é de concentração”, diz Sérgio Mena Barreto, presidente-executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácia e Drogarias (Abrafarma). A instituição representa o interesse das 31 maiores redes do País. E os números falam por si. Em 2008 as chamadas farmácias de bairro cobriam 55% do mercado nacional. Este ano, a participação caiu para 47%, com expectativa de representar menos de 39% das vendas até 2017, de acordo com análise da IMS Health, companhia especializada em estudos do mercado de saúde.
Enquanto isso, as grandes redes cresceram de 42% para 50% e devem dominar 60% da clientela até 2017. O ganho é ainda maior para as gigantes quando se coloca o volume de negócios. “Crescemos num mercado que fatura muito mais”, raciocina Barreto. Saiu de vendas de R$ 24 bilhões há cinco anos para os R$ 45 bilhões estimados para este ano e R$ 87 bilhões em cinco anos. Uma movimentação quase quatro vezes maior num período de uma década.
“Atualmente o mercado brasileiro é o 6º no ranking mundial, mas com perspectiva para ser um dos cinco. O Brasil está acima da média do mercado mundial (5% ao ano), com uma vertente de crescimento de dois dígitos ano após ano. Com a expansão das classes C e D, a melhora da distribuição de renda e a maior quantidade da população na terceira idade, o aumento do consumo no País se torna inevitável e atrai atenção e investimentos dos principais players globais”, avalia Marcello Albuquerque, diretor de Pharma Solutions América Latina da IMS Health, em entrevista publicada no site da empresa.
A tradicional gigante americana do setor de farmácias Walgreen é uma das estrangeiras que estão de olho neste crescimento médio de 18%. O mercado espera pra breve a chegada da marca no Brasil.
Além da melhoria de renda, principalmente no Nordeste – com destaque para o Recife –, e do envelhecimento da população, outros fatores ajudam a tornar o setor de farmácias cada vez mais atraente. A implantação de programas sociais para a população de baixa renda, como o “Aqui tem Farmácia Popular”, também são apontados como impulsionador de vendas. Não só isso, segundo a IMS Health, outro fator que continuará impactando o mercado e poderá impulsionar volumes e valores é a queda de patentes. “No Brasil há cerca de R$ 1 bilhão em volume de vendas de produtos que perderão suas patentes nos próximos 4 anos, e isso representará uma grande oportunidade para a entrada de genéricos e similares no mercado, ampliando o acesso e o volume”, diz o relatório da IMS Health numa análise de 2011.
Veja:
Relatório da Deloitte sobre o valor de Farmácia Guararapes e Big Ben
Breve análise da IMS Health sobre o mercado de farmácias no Brasil e entrevista com Marcello Albuquerque, diretor de Pharma Solutions América Latina