Impulsionados pelo segmento imobiliário e pelos investimentos, os bancos públicos passaram a responder, em junho, por mais da metade do crédito do País (50,3%). Essa é a primeira vez que as instituições estatais dominam o mercado desde 1999, em meio à onda de privatizações do setor.
A partir dos anos 2000, seis bancos estaduais passaram para a iniciativa privada: Banestado (2000), Banespa (2000) e os bancos do Estado da Paraíba (2000), de Goiás (2001), do Amazonas (2002) e do Maranhão (2004). Para se ter uma ideia, o maior de todos, o paulista Banespa, contava na ocasião do leilão de venda com mais de 1,3 mil pontos de atendimento. O espanhol Santander arrematou a instituição e hoje é o quinto maior banco do País em ativos.
A expansão recente fez com que o estoque de créditos providos pelas instituições públicas em junho alcançassem a marca de R$ 1 27 trilhão. Ao mesmo tempo, houve um encolhimento dos bancos nacionais e estrangeiros nesse mercado. De maio para o mês passado, a fatia dos domésticos cedeu de 34,9% para 34,2%, o que equivale a R$ 864 bilhões, enquanto a dos bancos externos passou de 15,7% para 15,5%, para um total de R$ 394 bilhões.
Com essa expansão do segmento público em junho, ampliou-se ainda mais a diferença do estoque de crédito entre bancos oficiais e privados.
No acumulado de 12 meses encerrados em junho, o saldo de recursos de bancos estatais cresceu 29,3%, a maior alta desde 2009, de acordo com o analista de bancos do Grupo Bursátil Mexicano (GBM), Andre Riva Gargiulo.
“Os bancos estatais mantiveram uma expansão agressiva no crédito e a diferença nas taxas de crescimento de empréstimos dos bancos estatais e privados continua a aumentar”, disse Gargiulo.
IMÓVEIS - O aumento da participação dos bancos públicos se deve, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, principalmente ao desempenho dos financiamentos de casas, apartamentos e prédios. “Isso é reflexo da dinâmica do crédito imobiliário”, resumiu, acrescentando que os bancos oficiais são fortes nessa área.
Maciel lembrou que, de um ano para cá, a participação do crédito imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB) passou de 6% para 7 5%. “Esse financiamento foi o destaque do mês”, disse ele. De acordo com o BC, o crédito imobiliário está crescendo a uma taxa de 35% ao ano nos últimos meses.
BNDES - Outro ponto que ajudou na arrancada das instituições estatais, conforme Maciel, foi o dos investimentos, capitaneados principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De maio para junho, o banco de fomento aumentou em 1,9% o volume de empréstimos para empresas, atingindo a marca de R$ 447 bilhões. “Há, de fato, em curso a ampliação do financiamento para investimento”, constatou o técnico do Banco Central.
Nem tudo é ruim para o setor privado. A taxa de provisionamento das instituições estrangeiras, que é a reserva para cobrir eventuais calotes, caiu de 6,3% para 6,2% de maio para junho. Entre os bancos nacionais, a queda foi ainda mais forte no período, de 7,4% para 6,9%.
Mesmo assim, os bancos particulares estão distantes do nível de 3,7% obtido pelos públicos no mês passado. A diminuição é importante porque o banco fica com mais recursos disponíveis para realizar operações ou contabilizar como lucro.