As companhias de capital aberto puxaram firme o freio dos investimentos. Dados inéditos dos balanços anuais de 193 sociedades anônimas listadas na Bolsa de Valores, excluídas as empresas financeiras, revelam estagnação nos investimentos e despesas de capital (capex, na sigla em inglês) em 2013.
Os números, informados pelas próprias empresas à Comissão de Valores Mobiliários (CMV), também registraram, ao longo dos últimos três anos, trajetória de recuo nos aportes para cobrir a perda progressiva do valor de ativos das companhias, a chamada depreciação. Essa conta afeta máquinas, equipamentos, veículos, móveis, imóveis e instalações. O levantamento da consultoria Economática, feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, mostra que o entusiasmo para investir foi mais abalado nas empresas médias do que nos grandes grupos.
Em 2013, o volume de investimentos das empresas estacionou, somando R$ 217,11 bilhões. Há dois anos, havia fechado em R$ 216 98 bilhões - o adicional somou apenas R$ 123,1 milhões neste intervalo. A variação de 0,57% ficou bem abaixo do índice oficial de inflação de 5,91% no ano passado.
A relação entre o investimento e a depreciação - que mede a fatia da perda de valor dos ativos coberta pelos investimentos - registrou um recuo significativo. Passou de 139% no primeiro ano da gestão Dilma Rousseff para 59% no ano passado, levando-se em conta a mediana das 193 companhias.
"Significa que essas empresas, consideradas com peso igual para todas na amostra, investiram 59% além do necessário para suprir a demanda por reposição de bens", diz o presidente da Economática, Fernando Exel. "Ou seja, investiram um pouco mais do que 'pro gasto'." Em três anos de governo Dilma, as despesas de capital cresceram 13,2%, gerando um adicional de R$ 25,3 bilhões nessa conta. Na outra mão, os gastos para cobrir a depreciação avançaram em ritmo mais forte (34,4%), mas em volume menor: R$ 23,75 bilhões.
Responsáveis por mais de 80% da taxa de investimento no Brasil, as empresas refletem o clima político instável e a intervenção do governo na economia, segundo especialista. No mercado, apontam-se alta dos juros, questão fiscal e custos financeiros como influências negativas ao PIB e ao ambiente econômico. "Essa relação mostra uma aposta de freio no futuro. Pouco 'capex' afeta o PIB no médio prazo", diz Rodrigo Zeidan, consultor e professor da Fundação Dom Cabral.
O diretor da associação dos executivos financeiros (Anefac), Andrew Storfer, diz que a intervenção de Dilma "abalou" a economia. "A margem de lucro estreitou e o investimento minguou por que não há bons sinais", diz. Mais otimista, o coordenador do observatório PPP Brasil, Bruno Pereira, diz que os 80 projetos de parceria público-privada em carteira nos Estados "mostram o apetite privado por novos investimentos" desde 2011.