FGV

Confiança da indústria está 'extremamente' baixa

Superintendente da FGV/Ibre esclareceu que a última vez em que havia mais empresas projetando uma piora no cenário de seis meses foi em maio de 200

RAFAEL CARVALHEIRA
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RAFAEL CARVALHEIRA
Publicado em 30/09/2014 às 17:37
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Pela primeira vez desde quando o Brasil sentia os efeitos da crise financeira mundial de 2008 há mais empresas da indústria de transformação que projetam uma piora na situação futura dos negócios do que empresas que estimam uma melhora, disse Aloisio Campelo Jr., superintendente adjunto para ciclos econômicos da FGV/IBRE. Campelo acrescentou que isso pode conter os investimentos e que o mês de setembro foi marcado por uma certa frustração com a atividade. Outro destaque negativo do levantamento foi a piora da percepção de estoques, o que pressupõe baixa demanda mesmo após a Copa.

Em conversa com jornalistas, o superintendente da FGV/Ibre esclareceu que a última vez em que havia mais empresas projetando uma piora no cenário de seis meses foi em maio de 2009. Em setembro, o indicador marcou 95,9, de 103,5 em agosto. Leituras abaixo de 100 significam que o número de empresas pessimistas superam o de empresas otimistas.

Campelo reforçou que o índice de confiança da indústria de transformação está "extremamente baixo" e que houve uma certa frustração com o ritmo de atividade neste trimestre. Ele explicou que dados como a piora do Índice de Situação Atual e do Nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) sugerem que a produção industrial de setembro não deve registrar aumento. "Se houver uma alta, vai ser muito baixa, parecido com o que aconteceu em agosto", afirmou.

O superintendente da FGV afirmou que a pesquisa conduzida com as empresas captou alguma frustração com o acúmulo de estoques. Isso está relacionado com o descompasso entre o nível de produção planejado e a demanda inferior ao esperado, disse. "Passado o período da Copa do Mundo, a indústria saiu um pouco mais otimista do que efetivamente a demanda se mostrou no terceiro trimestre, e isso provocou um espalhamento maior da percepção de que os estoques estão excessivos", disse.

Na passagem de agosto para setembro houve pouca variação no indicador de estoques excessivos, mas o índice continua a mostrar que o nível de estoques no maior nível desde 2009. Neste mês, dos 14 segmentos da indústria de transformação acompanhados pela FGV, 8 registraram alta nos estoques, três mostraram queda e outros três permaneceram estáveis. O índice marcou uma leitura de 112,7 em setembro. "O nível é alto em termos históricos, e há mais segmentos aumentando estoques que diminuindo, então ainda está bastante espalhado", acrescentou.

Para o mercado de trabalho, ele lembrou que o saldo de empregos medidos no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) está no terreno negativo há quatro meses, sendo que a última vez em que isso aconteceu foi no período de 2008/2009, quando a fase era muito ruim para a indústria. "A intensidade é menor, mas está persistindo, e continuamos sem sinais de melhora no curto prazo", afirmou. "O momento do mercado de trabalho é delicado. Pode haver uma piora ou até uma intensificação da piora."

Em meio a esse cenário, Campelo reforçou que o cenário para investimento produtivo também não é favorável. Ele explicou que, para haver uma expansão dos investimentos, o Nuci deveria indicar uma utilização elevada da capacidade somada a uma confiança de que a economia vai acelerar e uma percepção de que o investimento terá retorno positivo. "Mas nenhum desses três itens está favorável", afirmou. 

No entanto, ele lembrou que a incerteza política também é um fator relevante e que, passadas as eleições, pode haver uma melhora na confiança com mais definição sobre as políticas do próximo governo. Campelo explicou que desde o segundo trimestre muitas das empresas ouvidas na pesquisa relataram uma percepção de que a margem de manobra do governo havia diminuído por conta do processo eleitoral.

Campelo disse que, para a retomada da confiança, o item mais importante a ser abordado pelo próximo governo seria garantir a estabilidade da política econômica, em vez de priorizar medidas para determinados segmentos da indústria. Isso, somado a uma potencial desvalorização cambial, seriam dois fatores potencialmente favoráveis para a indústria de transformação no próximo ano, avaliou.

 

 

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