Uma ação de uma empresa cair 10% ou subir 10% na Bolsa de Valores não costuma ser um fato corriqueiro. Quando isso acontece, em geral há um fato relevante por trás: uma compra ou uma venda, um lucro, um prejuízo. Nos últimos meses, porém, as ações das empresas estatais brasileiras têm vivido esse cenário quase diariamente. E o motivo é apenas um: a expectativa do mercado financeiro em relação ao resultado das eleições.
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As ações das estatais - Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobrás, principalmente - estão dentro de um pacote que se convencionou chamar de "kit eleição", os papéis influenciados diretamente pelos rumores eleitorais. Como são também papéis com peso significativo dentro do Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, sua variação tem transformado a Bolsa numa verdadeira gangorra.
Juntas, as três empresas tinham, no início de outubro, um valor de mercado de cerca de R$ 300 bilhões - ou seja, uma queda ou valorização de 10% significa R$ 30 bilhões a mais ou a menos em um só dia. E essa variação atinge diretamente muitos investidores pessoas físicas, que têm papéis principalmente da Petrobras - investidor que está bem longe de ser um especulador do mercado".
Basicamente, a variação é provocada pela "torcida" do mercado por uma vitória da oposição. A avaliação é a de que um novo presidente poderia estabelecer uma política mais tradicional na economia e menos intervencionista nas empresas, o que seria benéfico para as estatais. Por isso, quando sobem as chances de vitória da oposição - apontadas por uma pesquisa, por exemplo -, as ações das estatais sobem. Quando crescem as chances de a presidente Dilma Rousseff ser reeleita, os papéis caem.
A primeira pesquisa que mostrou números apontando para a realização de um segundo turno - portanto, com uma possibilidade de vitória da oposição - foi divulgada em 27 de março. O levantamento trouxe uma queda na avaliação positiva do governo, para 36%, bem abaixo dos 43% observados no levantamento de dezembro de 2013. Além disso, o porcentual daqueles que avaliavam o governo na época como ruim ou péssimo subiu de 20% para 27% no mesmo período.
Campos
A eleição deste ano causa forte impacto nos mercados, portanto, desde março. Porém, foi depois da morte do candidato Eduardo Campos (PSB) e das consequentes mudanças na corrida pela Presidência que se abriu espaço maior para especulações, o que elevou significativamente a volatilidade e o volume de negócios na Bovespa.
No caso das ações ordinárias da Petrobras (ON, com direito a voto), por exemplo, a volatilidade, que era de 38,46% entre janeiro e março, caiu para 37,60% de abril até a morte de Campos. Depois disso, saltou para 59,19% até o término de setembro, segundo cálculos feitos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com apoio da Clear Corretora.
A ação preferencial da petroleira (PN, sem direito a voto) tinha volatilidade de 36,86% até março, subiu a 40,05% de abril a 12 de agosto e atingiu 60,71% depois da morte de Campos.
A gente precisa da volatilidade para dar ‘game’, então é bom quando o mercado está sacudindo para todos os lados", disse o analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo. O volume financeiro (da Bolsa) ganhou uma força muito grande desde a segunda quinzena de março, quando começaram as pesquisas eleitorais, e isso está diretamente relacionado à oscilação forte", acrescentou Pedro Galdi, estrategista-chefe da SLW.
Em março, antes de as pesquisas eleitorais ganharem ritmo, o giro médio do Ibovespa foi de R$ 5,425 bilhões. Em agosto, quando a corrida presidencial já estava a todo vapor, o volume subiu para R$ 8,492 bilhões. Em setembro, o giro subiu para R$ 8 63 bilhões.
O analista de investimentos da corretora Spinelli, Elad Revi, diz, porém, que oscilações muito grandes também podem ser prejudiciais, pois assustam os investidores. Se a volatilidade sobe muito acima de 40%, o mercado pode ficar meio atônito", disse.