O presidente do PT, Rui Falcão, classificou como "manobra de conteúdo eleitoral" a decisão da agência de classificação de risco Moody's que rebaixou a nota de crédito da Petrobras por preocupações com o endividamento e o caixa negativo da empresa.
Leia Também
"Precisava de mais dois rebaixamentos de nota para ter um efeito prático", ironizou Falcão em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Acho que é mais uma investida, uma tentativa político-eleitoral, como nós já vimos outras vezes fazerem estas agências de risco, cuja reputação, desde a queda do Lehman Brothers, precisa ser avaliada", atacou o petista.
Falcão condenou, ainda, o que chamou de "interferência indevida" do jornal britânico Financial Times, que publicou matéria em defesa da candidatura do tucano Aécio Neves, e sobre as sucessivas quedas na Bolsa de Valores, aliadas à alta do dólar, sempre que a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, sobe nas pesquisas, avisou: "Tem muita gente ganhando dinheiro com manipulação de pesquisas".
Ele saiu em defesa do tesoureiro do PT, João Vaccari, que estaria sendo acusado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef de arrecadar propina para o partido. Falcão nega e diz que "não há nenhuma denúncia comprovada envolvendo o companheiro Vaccari". E completou: "Ele permanece cuidando das contas do PT".
Em relação à permanência de Vaccari no Conselho de Administração da Usina Hidrelétrica de Itaipu, Rui Falcão disse que "essa decisão é do governo". Mas o presidente do PT contou que Vaccari lhe informou que quer deixar o cargo, cujo mandato só vence em 16 de maio de 2016, ainda este ano. "Ele me disse isso antes do surgimento destas denúncias infundadas", comentou. Vaccari justificou, segundo ele, que deseja ter mais tempo para se "concentrar" apenas nas questões do partido.
Questionado se pretende promover um saneamento do partido em função das denúncias, respondeu: "O PT não convive com malfeitos e atos de corrupção. Qualquer denúncia comprovada, que envolva militantes do PT, passará pelo crivo do estatuto, das regras partidárias, que exigem conduta ética e irrepreensível dos nossos militantes, inclusive no que diz respeito à fidelidade partidária".
Rui Falcão declarou que, passadas as eleições, o PT vai fazer uma avaliação interna para discutir seu futuro porque quer um "partido mais próximo das bases". Ele não disse, mas uma das avaliações internas defende a redução da influência que os quadros de São Paulo têm no partido.
No caso de um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, ele anunciou que o partido vai "se renovar" e "dar mais efetividade nas campanhas pela reforma política". Quanto ao espaço do PT em um segundo mandato, avisou que "tem de ter um tempo para as conversas políticas", mas ressaltou que a preocupação do partido é com a "influência nas políticas públicas de governo, mais do que com postos a serem ocupados". Justifica que quer que "as políticas públicas que o PT defende possam ter visibilidade, presença e eficácia".
Fiscalização e motivação
O presidente do PT defendeu uma "intensa fiscalização" das eleições no domingo. O partido está preocupado com o que chama de "ausência pronunciada" dos eleitores que residem, principalmente, em áreas rurais e ribeirinhas, que têm dificuldade de locomoção para chegar às zonas eleitorais.
Essa taxa de ausência, lembrou, costuma ser da ordem de 18% a 20%. Boa parte do eleitorado do PT vem dessas áreas e poderia ter dificuldades de locomoção. Por isso, pediu ajuda aos tribunais regionais para que fiquem atentos ao atendimento dessas populações.
No caso dos grandes centros, Rui Facão assegurou que a militância petista está "muito motivada pelo debate e pela atuação da presidenta, pela apresentação das nossas propostas". Mas ressalvou que "não há vitória antecipada", apelando para que a militância continue nas ruas. "É preciso mais mobilização e muita fiscalização no dia da eleição e esperar vontade do eleitor manifestada nas urnas", emendou.
Debate
Segundo Rui Falcão, a presidente Dilma Rousseff dedicará a maior parte de hoje e de amanhã para se preparar para o debate da TV Globo. Para ele, o clima do encontro da noite desta sexta-feira, 24, entre os dois adversários será de tranquilidade, "pelo menos por parte da petista".
"Ela sempre procurou afirmar nossas propostas, manter um nível elevado de respeito aos adversários", comentou. "No primeiro turno, ela enfrentava línguas de aluguel, dobradinhas de vários candidatos contra ela. Agora é um contra o outro e ela tem mostrado sua superioridade, tanto na maneira de tratar o adversário, quanto no debate político de ideias", observou. "E vai se manter assim no debate da Globo."
Falcão disse ainda acreditar que o eventual segundo mandato de Dilma será melhor que o primeiro, repetindo o que houve no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre a possibilidade de o próximo presidente receber um país muito dividido, ele concordou que isso pode acontecer, mas "com condições de superar dificuldades, já que criamos uma base material, política e social e agora é ingressar no novo ciclo de crescimento". E completou: "cuidamos da infraestrutura, tiramos o Brasil do mapa da fome enquanto os tucanos tiveram a proeza de incluir São Paulo no mapa da seca".