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Candidatos à presidência deixam de discutir a indústria no segundo turno

Seja quem for o eleito, terá o desafio de fazer o setor retomar a importância na economia e a competitividade internacional

Da editoria de economia
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Publicado em 25/10/2014 às 12:15
Foto: AFP
Seja quem for o eleito, terá o desafio de fazer o setor retomar a importância na economia e a competitividade internacional - FOTO: Foto: AFP
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Os ataques mútuos da campanha presidencial no segundo turno esconderam diversas discussões importantes para o futuro do País e entre as principais ausências nos debates figuram a competitividade e produção da indústria brasileira. Atualmente em baixa, a indústria nacional sofre um longo processo de redução de importância na economia e produzindo menos por uma razão conjuntural e outra estrutural. Atualmente, o Brasil vive num período de menor demanda interna e externa por seus produtos, problemas que são agravados pela baixa qualidade da mão de obra, sistema tributário intricado e infraestrutura deficiente que travam o crescimento há anos.

Para enfrentar o problema, as duas candidaturas têm propostas diferentes. Aécio Neves aborda em seu programa propostas que falam diretamente ao mercado, com um diagnóstico crítico em relação a atual política industrial adotada, pregando a retomada da confiança para que o empresário volte a investir e fim de benefícios concedidos para setores específicos da economia – o chamado microgerenciamento da economia. Já o grupo de Dilma Roussef defende que vários dos programas adotados ao longo do atual governo, a exemplo do Pronatec, trarão resultados positivos com o tempo.

A economista Tânia Bacelar, da consultoria Ceplan, diz que os dois candidatos abordaram de forma tímida a discussão em seus debates, mas destaca que indo atrás das propostas, é possível perceber diferenças e também semelhanças. “O programa de Aécio aposta em política macroeconômica e criação de um bom ambiente de negócios, ampliando a inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais, com avanço da internacionalização. Do lado de Dilma, ela aposta em políticas que o PSDB critica, como o incentivo ao conteúdo local, principalmente na indústria do petróleo e gás, exigindo que as empresas fornecedoras sejam instaladas no Brasil, gerando emprego local em detrimento de um custo maior”, compara.

Outra divergência seria em relação aos estímulos setoriais, com o PT aplicando desonerações localizadas para setores como veículos, equipamentos e linha branca e o PSBD defendendo uma política horizontal. 

Ela diz que os dois programas têm pontos de convergência no estímulo à inovação. “Melhoria da qualificação da mão de obra, infraestrutura e desburocratização eu vejo nos dois programas, mas eles discordam com relação aos financiamentos do BNDES, que tem atualmente uma política de financiar empresas brasileiras para se tornarem mais competitivas no mercado exterior”, comenta. 

Desde a década de 80, a indústria vem perdendo participação na economia, principalmente pela baixa competitividade internacional. Os problemas tributários, de regulação e custo de mão de obra elevado e o chamado custo Brasil, fruto de uma infraestrutura deficiente, diminuem a competitividade da indústria fora e dentro do País, já que o crescimento de países como a China chegam no mercado local com maior eficiência e preços menores. O câmbio elevado também ajuda a diminuir a competitividade local, já que deixa mais caro os produtos produzidos localmente, além dos juros altos, que desestimulam os investimentos produtivos. “Esses são os desafios e a realidade vai impor prioridades, quem quer que seja o próximo presidente. Lutamos muito para ser a oitava economia industrial do mundo e perder espaço não faz sentido”, comenta a economista.

Em julho a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou aos candidatos suas propostas para a retomada do setor. As propostas vão muito além da pauta industrial, incluindo temas como a melhoria da educação básica, melhor gerenciamento dos gastos públicos e gestão fiscal, que contribuem com a elevação da carga tributária, segurança jurídica dos contratos, estímulo a instrumentos que favoreçam o aumento das cadeias produtivas, desenvolvimento de alternativas de financiamento, melhoria nas regras trabalhistas e na infraestrutura de logística, e estímulos à inovação. 

 

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