A campanha eleitoral da presidente reeleita Dilma Roussef se mostrou eficiente ao conseguir fugir dos temas econômicos. Ao preferir desconstruir a imagem de seus adversários diretos em vez de debater os problemas, ela e sua equipe garantiram a vitória nas urnas. Mas passado esse período, agora não há mais como se desviar dos problemas. Ontem, na TV Record e Globo, ela já anunciou que prepara mudanças na equipe econômica e que vai esperar que o mercado se acalme. Para além da agenda de Dilma, seu segundo mandato se mostra cheio de desafios, pois terá como herança um país com baixo crescimento econômico e inflação alta. Para os analistas, o primeiro ponto a ser enfrentado é retomar a confiança do empresariado, hoje desconfiado e com pouco estímulo para colocar a mão no bolso e investir no País.
“Entramos num período de desaceleração e a gente continua nesta fase, pois não há sinalização de recuperação por enquanto”, comenta o economista coordenador das sondagens de confiança da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloísio Campelo. Para reverter esse quadro de expectativa negativa, o primeiro passo a ser tomado deveria ser dado logo. A presidente precisa definir quais são os nomes que tomarão conta de sua política econômica. “Com os nomes postos, saberemos se ela vai manter a mesma política econômica ou fará as mudanças”, pondera o economista do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), Marcel Balaciano. “Os problemas gerados pela expectativa estão fortes."
Para Raphael Juan, gestor da BBT Asset, o primeiro pronunciamento de Dilma após a sua reeleição foi positivo. “Ela passou o recado que está mais madura e que entendeu a mensagem do mercado e vai passar a ouvi-lo mais. Eu acho que o mercado está esperando o ajuste na equipe, então acho que ela deve anunciar pessoas mais técnicas. A continuidade da lua-de-mel que ela conseguiu hoje (ontem) dependerá das pessoas que ela vai anunciar”, disse Juan.
As questões ligadas às expectativas não são unanimidade. O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Fernando Aquino, por exemplo, defende que a atuação do governo em termos de conduzir os investimentos através de políticas públicas está correto, o que ficou errado seria apenas a forma como foi colocada.
Desemprego
Para diversos economistas a presidente terá de abrir mão de uma de suas principais convicções para controlar a inflação. No caso, terá de aceitar um nível maior de desemprego, pois é justamente o maior nível de empregabilidade que pressiona os preços. “Um terço da pressão inflacionária vem dos serviços, que estão mais altos porque o desemprego está baixo. De uma forma ou de outra haverá desemprego, pois se a economia não crescer, as empresas não vão contratar”, diz Marcel Balaciano, do Ibre.
A presidente hoje tem uma herança maldita criada pelo seu próprio governo. Nesses quatro anos o Brasil cresceu a uma média de 1,6% ao ano, considerando as previsões de 0,3% deste ano, e uma inflação de 6,2%, com picos acima da meta, como acontece agora com 6,75%. O que se espera é que o crescimento aumente, mas isso depende do nível de investimento, hoje baixo.
Para Aloísio Campelo esse problema pode ser consertado pelo lado fiscal. “A incerteza é o maior engavetador de projetos (de investimento)”, diz. Em outras palavras, o governo tem de dar sinais que vai melhorar suas contas sem “medidas voluntariosas” como incentivos fiscais seletivos e interferência demasiada nos preços administrados (como gasolina, energia e transporte público). Essa falta de investimento repercute nas contas. Hoje o Brasil opera em déficit em conta corrente porque gasta mais do que produz. “Importa muito porque o consumo das famílias vinha sendo um motor do crescimento, mas isso acabou. Precisamos estimular a produção”, completa Campelo