A nova equipe econômica de Dilma Rousseff corre o risco de enfrentar, logo no início do segundo mandato da presidente, a inflação mensal mais alta em 12 anos. São cada vez mais comuns projeções de uma taxa acima de 1% em janeiro de 2015, que terá que ser enfrentada por Joaquim Levy, na Fazenda, e Nelson Barbosa, no Planejamento, além de Alexandre Tombini, que permanece no Banco Central.
A última vez que o IPCA - índice oficial de inflação - ultrapassou esse percentual foi em março de 2003. Desta vez, a despeito do estado de prostração da economia, os preços serão pressionados pelos reajustes das contas de luz, pela alta do dólar e, possivelmente, por uma correção das tarifas de transporte coletivo e da tributação dos combustíveis.
Economista da Gávea Investimentos, Andrei Spacov prevê que a inflação de dezembro chegará a 0,8%, fechando o ano em 6,4%, 0,1 ponto percentual abaixo do teto legal. Em janeiro, prevê, chegará a 1,05%, acumulando 6,9% em 12 meses. Na sequência, a taxa atingiria 0,85% em fevereiro e ultrapassaria a casa anual dos 7%, o que não acontece desde junho de 2005.
Os cálculos de Spacov não levam em conta o eventual aumento da Cide, tributo incidente sobre a gasolina e outros combustíveis, que é uma das fontes cogitadas para elevar a arrecadação do governo. Nessa hipótese, o IPCA de janeiro poderia atingir 1,2%. Sergio Vale, da MB Associados, tem estimativa quase idêntica para a taxa de janeiro, de 1,06%. Ele acrescenta, entre os fatores de pressão sobre os preços, o aumento do feijão e o impacto do clima sobre a oferta de alimentos.
Dentro do governo, já se conta com a inflação mais alta no início de 2015 - e nada será feito para represar essa inflação, como ocorreu no primeiro mandato de Dilma. Daí a ordem para implantar, de fato, os reajustes automáticos das contas de luz em razão do uso da energia termelétrica, mais cara, o que foi adiado neste ano exatamente para conter a inflação.
A nova orientação rejeita o represamento de preços, visando recuperar a credibilidade da política econômica. Na ata que justificou o aumento de sua taxa de juros de 11,25% para 11,75% ao ano, o Banco Central antecipou que haverá uma aceleração da inflação nos próximos meses, em razão da desvalorização cambial, que encarece os importados, e da correção de tarifas públicas e outros preços monitorados pelo governo.
Isso significa que pouco resta a fazer pelo IPCA de 2015 além de evitar o estouro do teto de 6,5% no ano. Não por acaso, as expectativas para o crescimento econômico no próximo ano se aproximam de zero, porque será necessário elevar os juros e cortar gastos públicos para esfriar o consumo e tirar o fôlego dos preços.