A perda de atratividade em relação a outros investimentos e o aumento do custo de vida são os fatores que motivaram a fuga de recursos da poupança no primeiro bimestre de 2015, na avaliação de especialistas consultados pela Agência Brasil. Segundo dados do Banco Central (BC), em janeiro e fevereiro as retiradas dos poupadores superaram os depósitos em R$ 11,79 bilhões. É o pior resultado para o período desde o início da série histórica da autoridade monetária, em 1995.
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Para o economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), a baixa atratividade da poupança como aplicação é o principal motivo para a queda na captação. “Há uma aceleração da inflação, aumento das taxas de juros, [consequentemente] uma queda do rendimento [da poupança]. Você está perdendo dinheiro e tem outras aplicações que são muito mais rentáveis”, explica, citando como exemplo as aplicações cujo rendimento é indexado à inflação ou ao dólar.
Na visão dele, a pressão inflacionária sobre a renda também pode ser um fator de influência. “A poupança sempre foi uma aplicação das classes mais populares, com renda menor. Pode ser essa questão também, dos salários menores com a inflação [fazendo com que a população não tenha sobras de renda para poupar]. Mas essa realocação de recursos não é tanto por isso, quanto um problema de rendimento”, acredita, lembrando que juros altos tornam a poupança menos rentável.
Segundo a regra atual, quando a Selic, taxa básica de juros de economia, passa de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês, o que equivale a 6,17% ao ano, mais a taxa referencial (TR). Quando os juros básicos estão iguais ou inferiores a 8,5%, o rendimento é 70% da Selic mais a TR. Essa fórmula, em vigor desde agosto de 2013, vale só para o dinheiro depositado a partir de maio de 2012. Atualmente, os juros básicos estão em 12,75% ao ano, o que significa rendimento de 0,5% ao mês mais a TR, abaixo da inflação que tem sido registrada. Em janeiro, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi 1,24%. Em fevereiro, a variação foi 1,22%.
O economista José Kobori, professor de Finanças das Faculdades Ibmec, analisa que a fuga de recursos da poupança no primeiro bimestre deve-se “a uma conjunção de fatores”. “A inflação é alta. A economia também deixou de crescer, o que impacta sobre o emprego. Além disso, quanto mais aumenta a taxa Selic, menos atrativa fica a poupança. Aqueles que estão na ponta do investimento acabam retirando para investir em outras aplicações”, avalia. De acordo com Kobori, a pressão da inflação sobre a renda pode estar levando à utilização do dinheiro guardado para honrar compromissos. “Se você mantém o salário e os custos aumentam, de algum lugar você vai tirar dinheiro para cobrir esse déficit. Se faltar no fim do mês, acaba retirando [da poupança]”.