A inflação, que em fevereiro mostrou taxa de 7,7% no acumulado de 12 meses, começa a ter efeitos sobre o comércio. Essa é a análise do gerente de Economia da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Christian Travassos, que prevê impacto na manutenção dos empregos. Ele acredita que a alta é um alerta, pois, em 2013 e 2014, quando a situação econômica afetou mais fortemente a indústria e a agropecuária, o comércio conseguia respirar em função de uma massa salarial elevada e desemprego baixo.
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Em 2012, o comércio brasileiro cresceu 8%; em 2013, 4% e, no ano passado, 2,2%. Como em 2015 não há mais esses dois elementos que mantinham o comércio sem tantas influências (massa salarial alta e desemprego em baixa), a expectativa de Travassos é que não haja crescimento. “Ou [ocorra] até uma pequena queda, mas com frutos a serem colhidos a partir de 2016”, disse o economista da Fecomércio-RJ.Ele explica que a alta do dólar já se insere no contexto de elevação de preços. O aumento vem em conjunto com outras pressões na inflação, ao lado da energia, dos combustíveis, dos preços de serviços e da alimentação. “É mais um componente para a gente inserir nesse cenário”, acrescenta, ao destacar que o problema atinge empresários e consumidores e que a situação é mais difícil para as micro e pequenas empresas.
Responsável por uma microempresa de móveis e decoração na Lapa, Silvana Dias disse que a inflação influencia negativamente os negócios. “As vendas caíram muito, mais ou menos 70%. Todos os dias tinha venda e agora tem dia em que não vendemos nada”. Ela prefere, entretanto, manter o otimismo. “Penso que vai melhorar.”
Igor Souza, gerente de uma microempresa de descartáveis e material de limpeza no centro do Rio, avaliou que a situação é complicada. “As vendas caíram bastante. Muitas lojas estão fechando na região. Se continuar desse jeito, não vai dar para trabalhar mais”, completou.
Na avaliação do presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Aylton Fornari, o comportamento da inflação impacta no setor porque qualquer alta influencia parte da classe B e as classes C e D, que constituem grande fatia da clientela dos supermercados. “As pessoas começam a consumir alimentos com mais racionalidade e eliminam os supérfluos. Isso é preocupante, porque acaba diminuindo nossas vendas”. A estimativa é que as vendas do setor supermercadista fluminense em 2014 tenham aumento real, isto é, descontada a inflação, em torno de 2,5% a 3%, em relação a 2013. Os números ainda estão sendo fechados. Fornari acredita que será difícil repetir o índice em 2015.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), acredita que o impacto do aumento da energia vá começar a ser sentido no primeiro trimestre e prevê que, até o fim do ano, a inflação vá chegar a 8% em 2015. Em 2014, o índice ficou em 6,4%. Também influenciarão o índice, na opinião de André Braz, a introdução da bandeira tarifária nas contas de energia, o aumento no valor das passagens de ônibus urbanos, das mensalidades escolares e da gasolina. “Em março, agora, a gente vai ter de novo o impacto da energia, por causa dos aumentos que passaram a vigorar”.
Ele ressaltou que não se deve esperar também queda significativa dos preços dos alimentos este ano. Mesmo que haja safras boas de arroz e feijão, que afetam mais a cesta básica do consumidor, isso não deve garantir recuo dos preços, como ocorreu em 2014. Outro fator que contribuirá para a expansão da inflação é o setor de serviços livres, como alimentação fora de casa, salão de beleza, estacionamento, médicos, lavagem de carro, cujos preços não param de subir e acumulam alta acima da inflação média de quase 9% em 12 meses.