Após atingir R$ 3,09 nos primeiros negócios, o dólar fechou esta terça-feira (24) em baixa pelo terceiro dia seguido, com os investidores demonstrando alívio com a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de manter o selo de bom pagador do Brasil.
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Para analistas, a decisão da S&P dá ao governo tempo para aprovar os ajustes fiscais necessários para colocar a economia de volta à trajetória de crescimento.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,99%, para R$ 3,126. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, teve desvalorização de 0,57%, para R$ 3,127. Apesar da queda nesses três dias, a moeda americana ainda sobe 18% em relação ao real no ano --tanto o à vista quanto o comercial.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve queda de 0,78%, para 51.506 pontos. Das 68 ações negociadas, 18 subiram, 48 caíram e duas se mantiveram estáveis.
NOTA DE CRÉDITO
A notícia da manutenção da nota do Brasil pela S&P em BBB- trouxe alívio aos investidores.
"O mercado esperava um rebaixamento ou então uma perspectiva negativa para a nota. Como a S&P decidiu manter o grau de investimento e também a perspectiva estável, os mercados reagiram bem hoje", afirma Roberto Indech, analista da corretora Rico.
Pela manhã, Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, afirmou que o país deve crescer pouco neste ano e manter um nível baixo de crescimentos pelos próximos "vários anos".
No entanto, a notícia não pesou no desempenho da moeda, afirma Tarcisio Joaquim, diretor de câmbio do Banco Paulista. "A alta da moeda nos últimos meses já reflete o baixo crescimento estimado para o país. Isso já está acomodado no preço do dólar", afirma.
A expectativa agora se volta para o anúncio da Fitch, que se reuniu com membros do governo na semana passada e deve divulgar sua decisão sobre a nota de crédito do país nas próximas semanas.
EUA
Durante a sessão, a moeda americana chegou a se valorizar momentaneamente em relação ao real, depois que dados sobre a economia dos EUA reforçaram preocupações em relação a quando o banco central daquele país começará a elevar os juros.
O indicador de preços ao consumidor americano aumentou em fevereiro, o que indica pressão sobre a inflação. Isso poderia acelerar o início do aperto monetário nos EUA, o que atrairia para lá investimentos hoje destinados a aplicações em países de mais risco, mas que oferecem maior remuneração --como emergentes, incluindo o Brasil.
"Qualquer dado sobre economia dos EUA tende a criar instabilidade nos mercados. Principalmente após o Fed (banco central dos EUA) dizer que a decisão de juros seria balizada pelos dados econômicos", afirmou Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos.
As vendas de novas moradias para uma única família nos EUA atingiram, em fevereiro, o maior nível em sete anos apesar do inverno severo, em um sinal favorável para o mercado imobiliário. Além disso, o crescimento do setor industrial americano teve leve aceleração em março, com a atividade das fábricas mostrando o maior ganho desde outubro, de acordo com o Índice de Gerentes de Compras divulgado nesta terça-feira.
BC DO BRASIL
O discurso do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado nesta terça-feira (24), também contribuiu para alta pontual do dólar durante sessão.
Tombini afirmou que o programa de leilões de contratos de swap cambial (que equivalem a uma venda futura de dólares) do Banco Central atinge seus objetivos e atende à demanda existente, abrindo margem à interpretação no mercado de que não deverá ser renovado a partir do próximo dia 31 --data prevista para seu término.
Nesta terça, o Banco Central deu sequência a esses leilões.
BOLSA
Os investidores aproveitaram o dia para embolsar lucro, na avaliação do analista Henrique Florentino, da Um Investimentos. "Com a queda do dólar em relação ao real, a Bolsa brasileira, que estava barata na moeda americana, perdeu um pouco de seu atrativo para o investidor estrangeiro. A queda reflete um pouco isso", afirma.
As ações da Petrobras subiram no pregão, mesmo após a agência Standard & Poor's colocar a nota da empresa em perspectiva negativa.
A agência disse que a revisão do crédito individual da estatal, que não leva em consideração o apoio do governo brasileiro, deve-se à perspectiva de menor geração de fluxo de caixa neste ano e no próximo em decorrência do escândalo de corrupção.
"As investigações de corrupção em curso não só dificultaram o financiamento do plano de investimento da Petrobras, mas também enfraqueceram o crédito de seus fornecedores e retardaram a construção das plataformas de petróleo para o aumento da produção", disse a S&P.
Os papéis preferenciais, mais negociados e sem direito a voto, tiveram alta de 0,43%, para R$ 9,39. As ações ordinárias, com direito a voto, avançaram 0,22%, para R$ 9,24.