O fraco desempenho econômico, com a consequente crise na indústria, e os impactos da Operação Lava Jato, deverão fazer o consumo de aço no país cair 7,8% este ano, para 22,7 milhões de toneladas, levando-o ao mesmo patamar de oito anos atrás.
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A previsão é do Instituto Aço Brasil, que reúne as principais siderúrgicas do país.
Com menor demanda interna, a ociosidade das usinas segue em alta. O uso da capacidade instalada este ano deve fechar em 69,4%, o pior índice desde 2009, durante a crise global desencadeada no ano anterior, quando atingiu 63%, prevê o instituto.
A expectativa de uso das usinas, no mundo, é um pouco melhor, 71,9% da capacidade instalada. Desde 2004, o indicador brasileiro não supera a média mundial, efeito da menor competitividade do produto brasileiro.
Atualmente, as siderúrgicas rodam com capacidade ainda menor - 65,9%.
Nesta quarta-feira (1°), o IBGE divulgou que, em fevereiro, a produção industrial caiu 0,9% em relação a janeiro e 9,1% em relação a igual mês de 2014.
Com demanda interna fraca, o crescimento do setor previsto para este ano, de 6,5%, vem basicamente da expansão das exportações, que devem avançar 38% em relação ao ano passado - sobretudo com o envio de placas de aço, matéria-prima para outras siderúrgicas.
"A produção siderúrgica vai crescer, mas nossa preocupação não é só com a indústria do aço, mas com toda a indústria de transformação brasileira. Eles são nossos clientes. Um país precisa de uma indústria forte, e a participação da nossa no PIB caiu à metade. E, sem indústria, não temos clientes", disse Benjamin Baptista, presidente do conselho diretor do Aço Brasil.
A agressividade comercial da China e o câmbio seguem entraves à maior entrada do aço brasileiro no mercado mundial.
Segundo o Aço Brasil, no ano passado a China exportou 84 milhões de toneladas, e, este ano, considerando o ritmo dos primeiros meses, deverá exportar 120 milhões de toneladas de aço para o resto do mundo.
"A China segue buscando mercado dramaticamente, de forma nem sempre legal", disse Baptista.
Para o Brasil, a previsão é que as importações caiam 6,3% em volume, para 3,7 milhões de toneladas, devido à retração do consumo interno e da desvalorização do real (que torna mais caro o produto vindo de fora).
Ainda assim, o grau de uso de aço importado no consumo interno está em 16%, considerado alto. Segundo o instituto, no passado era, no máximo, 7%.
A variação câmbio e a queda no preço do minério de ferro (principal insumo na fabricação do aço) não são suficientes para melhorar a competitividade, no entanto.
Perguntado sobre a cotação de câmbio " ideal" para a siderurgia, o Presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes, afirmou não haver estudos a respeito, mas que "não ficaria envergonhado em falar em R$ 4", considerando que outros países, muitos dos quais concorrentes do aço brasileiro, tiveram desvalorização ainda maior.
Lopes afirmou, ainda, que a Lava Jato traz impactos para o setor.
"Não há grande obra no país. O setor de óleo e gás está parado. É claro que [a Operação Lava Jato] tem impacto".
A previsão do instituto é que o consumo interno de aço caia de 135 quilos por habitante para 124 quilos por habitante em apenas um ano.
Com tanta ociosidade, não há, no horizonte, investimentos previstos para o setor siderúrgico.
"O setor siderúrgico não tinha grave obsolescência porque passou por investimentos não faz muito tempo. E não há nos próximos três anos qualquer previsão de ampliação de capacidade", disse Lopes.
O presidente do Aço Brasil disse, ainda, que o ajuste fiscal era necessário, mas não esconde a preocupação com algumas medidas tomadas, como a redução da alíquota do Reintegra, mecanismo de geração de créditos de PIS/Cofins sobre os valores de bens exportados, de 3% para 1%, anunciada recentemente.
"Se nada fosse feito, seria o pior cenário, mas o ajuste precisa eventualmente de algumas correções. O ajuste é condição para o crescimento, mas a indústria deve ser prioridade", disse Lopes.