Nas últimas manifestações populares contra a presidente Dilma Rousseff, que ficaram conhecidas como movimento da direita brasileira, alguns cartazes que apregoavam “Mais Mises, menos Marx” passaram a chamar a atenção justamente por destacar um economista liberal pouco conhecido no Brasil, mas que vem conquistando cada vez mais adeptos. A campanha teve o apoio do Instituo Mises Brasil (IMB) e já ganhou o mundo com a frase sendo repetida em vários idiomas e em países como Argentina, Canadá e até Estados Unidos. “Este é um trabalho muito bem feito. Vem sendo desenvolvido desde 2008 pelo IMB pela divulgação das ideias de liberdade desse autor que é o grande nome da escola austríaca de economia”, diz o advogado e presidente do Instituto Liberal do Nordeste, Rodrigo Saraiva Marinho.
Marinho explica que o autor da frase (originalmente: Menos Marx, mais Mises) é desconhecido, mas ela apareceu pela primeira vez nas manifestações de julho de 2013 em Curitiba. Ironicamente aquele movimento teve uma identificação com o ideário mais à esquerda. “Alguém pichou essa frase num muro e, a partir daí, um dos integrantes do IMB criou um encarte em preto e branco com a inscrição e jogou na internet. Os liberais da Universidade Fluminense adoraram a ideia, imprimiram a imagem e passaram a colar em forma de cartazes na primeira manifestação de 15 março em Niterói. Depois disso, se espalhou pelo Brasil, inclusive com participação do pessoal do Grupo Dragão do Mar (de Fortaleza)”, relembra Marinho, que é cearense.
A internet, aliás, é a principal plataforma, não só para a divulgação das ideias de Mises, como traz soluções que confirmam suas teorias que levam ao extremo o liberalismo econômico e a mínima participação do Estado em todos os aspectos da vida das pessoas.
Se você usa o aplicativo de transportes Uber, o serviço de tráfego Waze, se se hospeda através do AirBnB e acha que o Bitcoin é uma boa alternativa ao dinheiro oficial para pagar suas contas, talvez você não seja tão de esquerda (ou de direita) quanto acha que é. Mas quem foi Mises e o que ele tem a ver com esses aplicativos?
O austro-húngaro Ludwing von Mises (1881-1973) foi um economista, filósofo e defensor da liberdade econômica, o nome mais proeminente da chamada escola austríaca, uma corrente de ideias que é pouco explorada nas universidades brasileiras, normalmente reduto de pensamentos mais à esquerda (com exceções, claro).
Seu livro A Ação Humana é a obra mais recomendada para quem quer conhecer suas ideias de estado mínimo. A oposição a Karl Marx, impressa nos cartazes brasileiros, tem a ver com sua previsão, feita em 1920, de que o socialismo iria fracassar. Pelas ideias da escola austríaca, os ciclos econômicos – a alternância entre períodos de crescimento e recessão – são gerados pela intervenção do Estado.
“A escola austríaca é quem melhor explica as crises geradas pela injeção exagerada de crédito e intervenção do Estado”, diz o economista Daniel Marchi, integrante de grupo de estudo de Brasília sobre a escola austríaca. Ele diz que se identificou com a corrente de pensamento econômico quando passou a conhecê-la em 2007.
Dentro dessa visão, as crises de 1929 e até as mais recentes de 2008 e a de 2015 no Brasil foram geradas pela intervenção estatal.
“Na tentativa de estimular a economia de um ciclo de baixa anterior, houve injeção artificial de crédito na economia. Isso gera novas bolhas econômicas, sendo a mais proeminente a bolha imobiliária dos Estados Unidos, que surgiu para corrigir a bolha da internet. Aquela crise não foi causada pela desregulamentação da economia americana, como dizem. O mercado financeiro é o mais regulado. A crise aconteceu pela injeção de crédito estimulada pelo Banco Central (FED)”, diz.
Os seguidores desse pensamento, aliás, são contra órgãos reguladores a exemplo dos bancos centrais e agências de outros mercados como Aneel, Anatel, ANS... É neste ponto que entram na discussão os aplicativos que vêm fazendo a cabeça de qualquer um que tenha um smartphone e conexão com a internet. “O Bitcoin é uma moeda virtual que não há como o BC controlar. Outra solução sem a participação do Estado é o compartilhamento de carros (Uber). Na prática, esses aplicativos promovem a descentralização dos sistemas, pois não precisam da autorização do Estado para funcionar. Pois, quando ele entra, fica tudo mais caro. Uma concessão para operar táxi em São Paulo custa R$ 1 milhão. A gente acha que o Estado vai ficar obsoleto”, diz o financista e presidente do IMB, Hélio Beltrão.
Para Marchi, por causa de suas ideias tão ácidas contra o Estado, Mises é pouco discutido, tanto no meio acadêmico quanto fora dele. Os acontecimentos recentes, com o governo e suas estatais no centro de um escândalo de corrupção sem precedentes, tornam as ideias de Mises cada vez mais fáceis de serem assimiladas. È o que estamos vendo nas manifestações.
Conheça mais sobre o tema: