A Sondagem do Comércio de abril, divulgada nesta terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), revelou avanço de 0,4% do Índice de Confiança do Comércio (Icom) em relação a março, após cinco meses consecutivos de queda. Com o resultado de abril, o Icom subiu de 92 pontos para 92,4 pontos. Os dados foram coletados entre os dias 1º e 23 de abril com 1.206 empresas do país.
Leia Também
Na avaliação do superintendente adjunto para Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo Jr., a pesquisa retrata um movimento de acomodação. “Ainda é cedo para dizer que é um ponto de mudança qualquer. A novidade é que o índice parou de cair”, disse. Nos cinco meses anteriores, a queda acumulada alcançou 17,1%. Dos 17 segmentos do comércio pesquisados, 11 tiveram alta em abril. No varejo restrito, o Icom de abril subiu 3,7% sobre março, enquanto, no varejo ampliado, a alta foi 0,4%.
Segundo o economista, a principal motivação para o Icom estar parando de cair não é tanto econômica, uma vez que o Índice da Situação Atual (ISA-COM), que retrata a percepção referente à demanda, continuou mostrando queda (-2%) e atingiu o mínimo histórico de 67,5 pontos em abril. O que mudou, disse, foram os quesitos da sondagem que mede as expectativas. “Quando o empresário olha para os três ou seis meses à frente, ele está menos pessimista do que estava no mês passado. Então, eu acho que houve uma calibragem, mais pela percepção de diminuição de incertezas”.
Essas incertezas estariam mais relacionadas ao ambiente político do que ao quadro econômico, englobando a questão da governabilidade, redução do risco de racionamento de energia e água e mesmo à variação do câmbio, que “deu uma acomodada em abril”. Na avaliação de Campelo, depois de cair tanto sucessivamente, o índice apresentou avanço em função de uma revisão de cenário por alguns entrevistados que deixaram de ser tão pessimistas “e passaram para uma coluna do meio”.
O avanço do Icom resultou de uma combinação de melhoria de expectativas, cujo índice subiu 1,9% em abril, depois de experimentar três meses de queda, e do recuo de 2% do Índice da Situação Atual, que desde fevereiro vinha mostrando taxas negativas (18,3% em fevereiro e 8,9%, em março). Aloisio Campelo considerou, porém, que mais importante do que a desaceleração do Índice da Situação Atual é o fato de que as expectativas melhoraram. "Se continuarem melhorando no mês que vem, a própria percepção sobre a situação atual tem uma probabilidade maior de que também suba”.
Em relação ao emprego, a sondagem apurou piora do indicador que mede o ímpeto de contratações no setor pelo quinto mês consecutivo, com retração de 2,5% em abril, atingindo o menor valor da série histórica (91,4 pontos). “Há uma piora, ou seja, há mais empresas dizendo que vão diminuir o quadro de pessoal nos próximos três meses”. As empresas estão avaliando a conjuntura, o comportamento das vendas, têm uma noção do mês seguinte e estão propensas a ajustar a equipe de funcionários.
Campelo analisou, entretanto, que isso não significa que os empresários vão demitir. "Pode ser que, simplesmente, elas não reponham uma pessoa que saiu ou se aposentou”. Ele alerta, por outro lado, que, quando o mercado de trabalho começa a ficar muito pior, algumas empresas tomam a decisão mais ativa de demitir.
A Sondagem do Comércio foi iniciada pelo Ibre-FGV em 2010. Aloisio Campelo disse que a primeira vez que foram registradas mais empresas prevendo diminuir o total de pessoas ocupadas do que aumentar ocorreu este ano. “De 2010 até 2014, não tinha registrado isso. Foi só em 2015 que a gente se deparou com essa situação. No momento, nós estamos com nove pontos a mais de empresas dizendo que vão diminuir o total de pessoal ocupado no comércio”. Os setores que estão piores são os de revendedores de veículos, motos e peças, com 74 pontos em abril, e o de revendedores de material de construção (85 pontos).