O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse nesta terça-feira (9) temer que o ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff não produza os efeitos esperados para a recuperação da economia e que o país acabe aumentando mais impostos do que cortando gastos.
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Armínio Fraga afirmou ainda que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) não pode ser considerado "nem Judas nem Cristo".
Levy, que tem sido alvo de críticas de setores do PT, foi defendido por Dilma em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", dizendo que as críticas são injustas e que não se pode "criar um Judas". Depois foi a vez do vice-presidente Michel Temer, que afirmou que o ministro deve ser tratado como um Cristo.
O atual titular da Fazenda chegou a trabalhar na equipe de Fraga que auxiliou a elaboração das propostas da área econômica apresentadas pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa eleitoral pela presidência no ano passado.
Segundo o economista, ainda é cedo para prever o resultado do pacote fiscal, que alterou as legislações trabalhista e previdenciária e conta ainda com alterações em desonerações da folha de pagamento de vários setores.
"O ajuste fiscal, como sempre, é um trabalho difícil. Nunca é fácil, passa por tensões e oposições de toda natureza. Acho que está um pouco cedo para comentar. Foi anunciado como um projeto de dois anos, não estamos na metade do primeiro tempo", disse Fraga, que participou de seminário sobre Tendências da Administração Pública.
"Eu temo que no final das contas nós acabemos aumentando mais imposto do que cortando gasto. E temo também pela qualidade dos cortes, que são pela sua própria natureza difíceis. E temo que mais adiante esse ajuste não seja suficiente", completou.
Sobre as defesas feitas pela presidente Dilma e por Temer, Fraga não reforçou as comparações.
"Nem um nem outro. O Joaquim Levy é homem que tem espírito público e foi oferecer seus serviços a esse governo. Acho que todo mundo sabia o que estava fazendo, agora se eles vão se entender ou não são outros 500. Foi um convite de certa maneira ligado a situação difícil na qual o país se encontra. Na época, achei que foi um bom sinal, mas não achava que haveria nenhuma facilidade no desenvolvimento do trabalho dele", disse.
CONCESSÕES
O ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso elogiou o pacote de concessões lançados nesta terça pelo governo.
"O programa é bem-vindo. É uma área muito carente de investimentos. Já não é de hoje, vem lá de traz, vem na esteira de outros programas que não deram resultado. Eu torço para que esse possa dar resultado. As inovações que estão sendo discutidas, falam sobre exigir co-financiamento do setor privado, que é uma proposta minha muito antiga, e de outros também. Acho correto, tem que ver qual vai ser a dosagem e como vai ser feita essa transição", afirmou.